A Figura de Clara de Assis
Clara, nasceu no ano de 1193/1194 na cidade de Assis, Itália, período marcado por diversas tensões entre as classes sociais. De família nobre, tinha como pai Favarone, sua mãe chamava-se Hortolana, mulher de muitas virtudes, que além de rica e nobre, contava com os dotes morais de caridade e piedade. Impulsionada pelo exemplo de Francisco e pelo amor adente que tinha por Jesus Cristo, deseja unir-se ao grupo do santo homem, com o intuito de doar-se inteiramente a Deus.
É importante salientar que a jovem cresce à sombra de sua mãe. Sua escola, desde os primeiros anos, eram as obras de caridade e piedade que exercia enquanto acompanhava a mãe no dia a dia. Notemos, portanto, o quanto foi importante a figura materna na formação cristã da Santa.
Desde pequena, a serva de Deus sentia uma inquietação em seu coração, um desejo de servir ao Senhor. Com o passar dos anos, começa a sentir-se chamada por Deus a viver uma vida inteiramente dedicada a Ele, em penitência e oração. No início ficou desorientada e com dúvidas, sem saber o que de fato significava aquele chamado.
Vendo, pois, a sua resposta em Francisco, homem que antes era rico e nobre, que gostava de chamar atenção, que tinha fascínio pelo luxo mundano, que sonhava em ser um cavaleiro, para então tornar-se um grande príncipe. Impelido pelo Senhor, sentiu em seu coração uma voz que o convidava a seguir Cristo, pobre, humilde e crucificado; observando rigorosamente o santo Evangelho. O santo homem escolheu a melhor parte que foi abraçar o projeto de Deus em sua vida, passando assim, de flor da juventude de Assis para o esposo da mais altíssima pobreza.
O servo torna-se para Clara uma referência. Ela, procura-o às escondidas para confessar-lhe o chamado de Deus, e recomenda-lhe que a ajude a discernir e atender o chamado segundo o plano divino. Ao primeiro encontro com o santo, seguiram-se os outros. Nos seus colóquios com Francisco, a jovem confia a sua alma completamente ao servo de Deus, para que lhe guiasse segundo os desígnios e propósitos do Senhor, a fim de que não fosse feita a sua vontade e sim a de Deus.
Aos dezessete anos, seu pai ofereceu-lhe em casamento, a um jovem endinheirado, chamado Rainério de Bernardo. Porém, Clara recusa, e manifesta o seu desejo de consagrar a sua virgindade ao Senhor. Percebendo que os seus pais não concordavam com o propósito ao qual queria abraçar, decidiu fugir de casa para concretizar a vontade de Deus em sua vida.
Numa última visita a Francisco, no monte Súbasio, local onde se encontravam, o servo dá a Clara as últimas orientações para a sua fuga. Entre a noite do Domingos de Ramos e a segunda-feira santa, do ano de 1212, a jovem deixa a casa paterna. Ao sair de casa, depara-se com a escuridão da rua, porém, cheia de confiança e coragem coloca-se sob a proteção do Altíssimo, rumo à Igreja de Santa Maria da Porciúncula, em São Damião. Ali, juntamente com os seus frades, Francisco estava em vigília e oração à espera da santa.
Ao ouvir aproximar-se a eleita, os frades saem para recebê-la com tochas de fogo em direção a igreja. Na dita igreja, Clara se prosta diante do altar da Virgem Maria, e se consagra a Deus pelas as mãos de São Francisco. Como sinal dessa consagração, o santo corta os seus longos cabelos. Com este gesto, a jovem despoja-se de toda a exterioridade para dedicar-se absolutamente ao Senhor. Nesse momento, juntamente com o Seráfico pai, ela inicia na Igreja de São Damião, a Ordem das Damas Pobres, conhecidas atualmente como as Clarissas.
Após a realização do ato, o pobre de Assis conduziu a virgem ao mosteiro das beneditinas. Os familiares, assim que deram conta da fuga de Clara, começaram a procurá-la em todos os mosteiros da região. Foram várias as tentativas para resgatar a jovem, porém, ela recusa e põe fim aos tormentos, mostrando aos seus perseguidores a cabeça raspada, em sinal de pertença a Cristo, assim, com esta atitude, ela demonstra que não é mais do mundo, mas sim do Pai que está no céu.
Dez dias depois do acontecimento, chega a sua irmã Catarina, conhecida mais tarde como Inês, para também seguir a Cristo na pobreza e obediência: isto posto, Inês é a primeira seguidora de Clara. Pouco depois que as duas chegaram no mosteiro em São Damião, local construído por Francisco e seus frades para as pobres damas, e pela fama que se espalhara por toda a região, chegaram algumas jovens desejosas de seguir este novo grupo evangélico, que não tinha outra bandeira senão a da humildade e da pobreza de Cristo, nem outro propósito senão o de seguir o Senhor até a cruz, vivendo como irmãs “pobres”, em comum e em plena abertura à moção do Espírito.
Guiadas pelo homem de Deus, a virgem e suas irmãs não duvidaram em despojar-se como ele. Elas, encarnaram profundamente o mistério de Cristo, pobre e crucificado, abraçando com coragem o seguimento do Evangelho. Entre ambos, “a relação é de pai e filha, num laço de fé e obediência”. No mosteiro, a Serva era considerada por suas irmãs como uma mãe, devido às virtudes de humildade, caridade, fortaleza e de obediência. Destarte, mostrava-se sempre preocupada com as suas filhas.
Clara passa, assim, quarenta e dois anos no mosteiro de São Damião, período de muita oração, silêncio, pobreza, contemplação, penitência e caridade para com as suas irmãs enclausuradas. A Serva de Deus faleceu no dia 11 de agosto de 1253, devido às doenças que apareceram no seu corpo por conta das duras penitências que fazia. Foi proclamada santa no ano de 1255, por Sua Santidade, o Papa Alexandre IV.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Silêncio, oração, caridade, pobreza e contemplação, eis o que de fato resume a vida de Clara, doada totalmente ao serviço de Deus. Digníssima filha de Francisco, não só observou o santo Evangelho como caminho de perfeição e de santificação, mas o encarnou profundamente nas suas ações do dia a dia.
Clara de Assis, não só foi a primeira plantinha de Francisco, como também foi uma fiel seguidora do Servo até os últimos momentos de sua vida. Ela, portanto, sustentou e fez crescer o carisma franciscano no ramo feminino. De nobre e rica, tornou-se esposa da mais altíssima Pobreza, aderindo com todo ardor a vontade do Senhor. Indubitavelmente, seguiu de perto São Francisco na vida de pobreza e no amor ao próximo e de Deus.
Assim como Maria, irmã de Marta e de Lázaro, a jovem “soube escolher a melhor parte” , doar-se plenamente a Cristo, tendo-O como o centro de sua vida. Semelhante a Francisco, Clara restaura a Igreja, não pelos discursos, mas pela vida de penitência e de oração que levara com as suas irmãs enclausuradas.
A contemplação de Deus! Aqui está a finalidade última do ser humano, somente nela poderemos encontrar a nossa satisfação e felicidade. Além do mais, a realização plena do homem consiste na santidade, em uma vida vivida no encontro diário com Deus, e isto, se pode observar de forma eminente na vida da pobre Serva de Cristo.
Portanto, sigamos o exemplo desta humilde serva, que encontrou a sua plena realização na contemplação de Deus, o Senhor Jesus, que é manso e humilde de coração; e peçamos a Ele que nos ajude a caminhar com fidelidade e vigor na vocação que abraçamos, e assim como Santa Clara, aprendamos a doar as nossas vidas inteiramente ao serviço do Reino, para o louvor e glória da Santíssima Trindade. Paz e Bem!