Beata Maria Lourença: peregrinação e disponibilidade

Beata Maria Lourença: peregrinação e disponibilidade

No dia 09 de outubro de 2021 aconteceu a beatificação de Madre Maria Lourença Longo, OSC Cap. Hoje é o dia em que celebramos a sua memória, 21 de outubro.

Tendo ficado viúva, ela fundou em Nápoles o Hospital dos Incuráveis e as Clarissas Capuchinhas. Uma mulher de grande fé e de intensa vida de oração, se prodigalizou pelas necessidades dos pobres e dos que sofrem. Papa Francisco

O texto abaixo foi extraído da carta do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, frei Roberto Genuin, direcionada às Clarissas Capuchinhas por ocasião da beatificação da Madre Lourença Longo.

Maria Lourença: peregrinação e disponibilidade

A terra catalã viu o nascimento de Maria Requenses, (provavelmente em Lérida, em 1463) nos anos de transição da Idade Média à Moderna. Ainda jovem, desposou Joan Llonc, com o qual teve vários filhos. Nesses anos, Maria foi essencialmente esposa e mãe, vivendo uma vida discreta de serviço e dedicação em âmbito familiar. A serenidade diária foi interrompida por uma triste tentativa de envenenamento por parte de uma serviçal, que deixou Maria paralisada e em péssimas condições de saúde, com limitações e grandes sofrimentos.

Enquanto isso, na última parte do século XV, ia se configurando unidade territorial da Península Ibérica, sob o domínio dos reis “católicos”. A Coroa espanhola dominava os mares, encontrando novos horizontes de expansão em terras americanas. E, no Mediterrâneo, o poderio espanhol alcançou a ilha da Sardenha e, em seguida, o Reino de Nápoles, na Itália meridional. Justamente Joan Llonc foi enviado a Nápoles para acompanhar o rei como regente e prestar serviços em sua chancelaria. Para lá se transferiu toda a família, cujo sobrenome, italianizado, tornou-se Longo.

Beata Maria Lourença Longo, OSC Cap.

O coração de Maria aprendera nesses anos a sofrer com amor o limite da doença e a separação da sua terra natal. Poucos anos depois, a morte do marido a deixará em uma situação ainda mais vulnerável: viúva, inválida e dependente.

No contexto religioso daqueles anos, percebia-se uma ebulição, em meio a críticas às deformações das instituições eclesiais e aspirações por mudanças e reformas evangélicas. O ambiente católico “pré-tridentino” era rico de iniciativas, de protagonismo leigo e de grandes mulheres, que viviam profundamente a própria fé em meio aos diversos serviços aos mais desamparados e as alturas místicas na intimidade da oração.

Em 1509, Maria fez uma peregrinação muito desejada: a visita à Santa Casa de Nazaré no Santuário de Loreto. Aí se realiza a sua prodigiosa cura por intercessão da Virgem Santíssima, milagre que lhe restitui a saúde e a mobilidade... E ainda aconteceu muito mais! Na casa do “sim”, circundada pelas mesmas paredes que testemunharam o “fiat” da Mãe do Senhor, o Espírito Santo ainda uma vez faz prodígios, encontrando nesta outra Maria disponibilidade e acolhida. Mudará também o nome para Maria Lourença, ligando a sua pessoa a este evento espiritual em Loreto. Desde então, a sua nova veste foi o hábito franciscano dos terciários, e a sua nova missão, doar-se completamente aos pobres e enfermos.

Os mais necessitados de Nápoles encontraram nesta mulher o sinal da consolação amorosa de Deus Pai, e ela mesma aprendeu ao longo dos anos a descobrir o rosto de Cristo em cada pobre, doando-se sem reservas, material e espiritualmente. Pelo caminho da solidariedade, reconheceu esta cidade como sua nova pátria.

Com o passar do tempo, o Senhor lhe pediu para dar um outro passo nesta peregrinação de disponibilidade: o início de uma obra de assistência permanente e orgânica. Aqui, entra em cena Ettore Vernazza, notário viúvo que dedicou sua vida e fortuna à assistência aos necessitados, fundando em Gênova o primeiro “Hospital dos Incuráveis”. Do mesmo modo com que tinha feito ali e depois em Roma, Vernazza se dirigiu a Nápoles com este projeto em mente. Com a sua tenaz perseverança, conquistou a disponibilidade de Maria Lourença para estar em primeira linha neste sonho. Ela aceitou com espírito de fé, consciente dos próprios limites, depois de ter percebido em uma Santa Missa o convite do Senhor a amá-lo ainda mais nos pobres incuráveis.

O Hospital de Nápoles foi organizado, governado e consolidado com toda a dedicação da Madre: com suas forças, assistia aos doentes, animava os voluntários e colaboradores em sua tarefa de serviço e buscava sensibilizar os ricos para torná-los solidários com os mais pobres. Junto com ela, algumas mulheres de nobre estirpe foram as grandes benfeitoras da obra e assumiram pessoalmente o cuidado dos pacientes.

Os primeiros frades capuchinhos, chegados a Nápoles, foram acolhidos nas dependências do Hospital e se dedicaram à assistência dos “incuráveis”, enquanto se preparava a sua residência definitiva. Igualmente aconteceu com os padres Teatinos à chegada deles à cidade, com o próprio São Caetano à frente da comunidade.

Quando a obra parecia consolidar-se organicamente e as suas forças físicas diminuíam, no coração de Maria Lourença nasceu um novo e intenso desejo de peregrinação, rumo à meta definitiva. Desejava visitar a Terra Santa, “para venerar as preciosas antiguidades banhadas pelo sangue do Redentor”. Contudo, tal desejo se transformou quando descobriu que era mais agradável a Deus permanecer em Nápoles e “consagrar um mosteiro de virgens ao patrocínio e nome de Santa Maria de Jerusalém”. Assim, logo reuniu um grupo de mulheres desejosas de uma radical dedicação à oração e solidão, que iniciaram a recitar juntas o Ofício Divino. Com o acompanhamento espiritual de São Caetano, e embora estivesse limitada pela doença e pela idade, Maria Lourença se pôs ao trabalho e, em 1535, obteve a Bula papal de aprovação do novo mosteiro de “Monjas da Terceira Ordem de São Francisco sob a Regra de Santa Clara”. A residência inicial se encontrava nas dependências do próprio Hospital.

Maria Lourença se propôs assegurar o futuro do mosteiro dando normas e diretrizes baseadas na Regra de Santa Clara, as Constituições de Santa Coleta e a experiência reformadora dos Capuchinhos. Buscou ainda dar um sólido quadro institucional com o aval de documentos pontifícios aos vários aspectos jurídicos da fundação. No ano seguinte, foi-lhe concedido elevar a trinta e três o número das monjas, símbolo eloquente para uma comunidade que quer viver, na própria experiência, os mistérios dos anos terrenos do Senhor Jesus.

Enfim, será o Papa a emanar um “motu proprio” que reconhece o Mosteiro de Santa Maria de Jerusalém como da Ordem de Santa Clara, onde se observa de maneira “strictissima” a sua primeira Regra, e a prever que os “frades da Ordem de São Francesco chamados Capuchinhos” sejam capelães e visitadores “in perpetuo”.

Relíquia da Beata Maria Lourença Longo, OSC Cap.

A bem-aventurada Madre concluiu a sua peregrinação terrena muito provavelmente em 1539, alcançando a almejada Santa Cidade celeste, deixando pelo caminho os traços profundos de seu testemunho pessoal de dedicação a Deus, os fundamentos da caridade na obra do Hospital dos Incuráveis e, sobretudo, um claro ponto de partida com um quadro jurídico fundamental daquela que ia se configurando como Ordem das Clarissas Capuchinhas, onde muitas mulheres encontraram o espaço propício para viver o espírito contemplativo reformador.

Nas décadas sucessivas, seguiram-se fundações de mosteiros, que acolhiam mulheres desejosas de uma vida contemplativa rigorosa, com santas figuras fundadoras e muitas outras anônimas. Algumas fundações foram projetadas e bem preparadas, mas outras eram mais iniciativas espontâneas, ou transformação de grupos de terciárias que se configuravam como capuchinhas. No contexto do século das reformas, dos grandes movimentos dentro da Igreja, das novas congregações e instituições, e, em seguida, com as estruturas surgidas a partir do Concílio de Trento, as monjas Capuchinhas deram a própria contribuição com sua austeridade claustral, sua simplicidade e sobriedade para buscar o rosto de Deus, a sua concentração no essencial, deixando de lado tudo o que é supérfluo e artificial. Testemunharam o amor da nudez da Cruz. Sua grande contribuição à reforma da Igreja foi o de voltar às raízes e aí permanecer.

Em geral, estas fundações não faziam referência direta figura de Maria Lourença Longo, mas à forma de vida e ao tipo de observância da Regra clariana por ela iniciada. De fato, sua missão não foi a de fundadora apresentada como exemplo de realização do carisma, mas a de um poderoso instrumento da Providência para dar o primeiro passo de um caminho seguido por uma seleção de grandes mulheres que têm continuado e aprofundado este carisma até hoje.

Liturgia - Beata Lourença Longo, OSC Cap

Abaixo você tem acesso ao complemento litúrgico para Liturgia das Horas e Celebração Eucarística - Maria Lourença Longo, OSC Cap.

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Missa de Beatificação

Abaixo você tem acesso a Celebração de Beatificação ocorrida no dia 09 de outubro em Nápoles - IT.

Clarissas Capuchinhas

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Autor:
Departamento de Comunicação da CCB
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