Brasilândia: um lugar onde o Evangelho é vivo
Aconteceu, entre os dias7 e 14 de julho, a experiência missionária dos pós-noviços da PROCASP, articulada e coordenada por Frei Marcelo. Juntamente com os pós-noviços estava compondo o grupo dos frades Frei Rodiney. Colaboraram também as irmãs Xaverianas (Missionárias de Maria), as irmãs Escolares, os leigos e leigas da comunidade e os Cônegos Regulares Lateranenses, que nos acolheram fraternalmente na casa paroquial.
Iniciamos a semana missionária no domingo com a celebração Eucarística, presidida por Dom Frei Carlos Silva, OFMCap. Suas palavras durante a homilia nos exortaram a manter nossos olhos fixos em Jesus, ele que é nosso maior exemplo como missionário.
Iniciávamos nosso dia com a oração das Laudes na casa paroquial. Após o café, começávamos as atividades. Duas manhãs foram reservadas para uma roda de conversa com algumas lideranças do bairro, nas quais ouvimos um pouco a respeito sobre como começou a comunidade, quais eram os principais atuantes na época e quais desafios encontraram e ainda encontram ali. Enfim, uma conversa para conhecermos um pouco da história pretérita e atual dos moradores.
Durante a tarde, saíamos para as visitas nas casas, guiados por alguns irmãos da comunidade.
O primeiro dia, acredito que foi o mais complicado – principalmente para alguém que, assim como eu, estava participando de uma semana missionária pela primeira vez. A constante chuva que caía também dificultou um pouco, porém não foi o suficiente para nos parar.
Penso que dois fatores fizeram com que nos deparássemos com muitas portas fechadas: as pessoas estarem trabalhando; e a chuva. Contudo, números não devem ser nossa prioridade, já que necessitaríamos de muito tempo para abranger uma região tão vasta. Penso que o importante é se cada família ou irmão que nos recebeu fez a experiência de se encontrar um pouco com a misericórdia de Deus.
Também tivemos um dia de visita aos doentes. Principalmente neste dia, pude perceber a importância da atuação da Igreja na vida desses irmãos. Muitos não tinham mais família; filhos moram longe ou não se importam; os amigos sumiram depois da enfermidade. A ajuda e visita dos vicentinos, dos agentes da pastoral da saúde e dos ministros extraordinários da Eucaristia é tudo o que eles têm. Foi nítido perceber a alegria no semblante e nas palavras ao se referirem “aos amigos da igreja que vem aqui em casa”. A graça do encontro ainda acontece, despercebida, sem holofotes ou câmeras, mas acontece.
Ouvimos ainda inúmeros relatos sobre como padres, religiosos e religiosas foram importantes para a construção, não apenas de cada bairro ou comunidade, mas também de escolas para as crianças, centros comunitários, posto de saúde, entre outros meios que dignificam a vida humana. Podemos afirmar que o Evangelho é vivo, ainda mais pelo fato de que, durante as conversas e troca de experiências com as pessoas, percebermos como é forte a graça e o sentimento de partilha naquele lugar. É um vizinho que ajuda o outro a encher uma laje; que dá um pacote de arroz quando alguém precisa; uma mãe que cuida e leva o filho da amiga na catequese; uma senhora que oferece café aos garis, enfim, o Evangelho vai acontecendo nessas pequenas circunstâncias do dia a dia, e o mais bonito de percebermos, é que ele acontece com muita gratuidade no coração.
Nas visitas durante o dia, convidávamos as pessoas para participar do momento celebrativo a noite. Foi satisfatório ver irmãos, que há anos, não frequentavam a igreja, mas agora retornaram. Na quinta-feira, tivemos a presença fraterna do ministro provincial, Frei Arcanjo, o qual presidiu a Celebração Eucarística, e de Frei Arnaldo. O pequeno centro de convivência ganhou vida novamente!
No sábado, chegado o término da semana, contamos com o apoio das irmãs Mestras Pias Filippini, das catequistas, dos jovens e de toda equipe missionária da paróquia. Foi um dia em que o pároco pediu que déssemos prioridade a inscrições de crianças para a catequese. Terminamos o dia com a Celebração Eucarística – e não poderia ser diferente! Antes da benção final, o pároco, padre Dorival, fez os agradecimentos direcionado a cada frade, irmã, missionário e catequista que participou desta semana missionária.
E de nossa parte, agradecemos a todos que nos acolheram; por cada café, almoço ou jantar preparado; aqueles que falaram conosco e nos ouviram, enfim, aqueles que compartilharam um pouco de sua vida e de sua história. Assim como diz as nossas Constituições:
“Todos os serviços prestados às pessoas devem estar alicerçados numa vida modelada pelo Evangelho. Lembrando-nos que o mundo escuta mais as testemunhas do que os mestres, vivamos próximos do povo na simplicidade de coração, comportando-nos como verdadeiros frades menores no estilo de vida e no modo de falar”. (n. 149,7)
Que possamos nos esforçar para viver assim não somente em tempos de missão, mas cotidianamente.
Esses relatos são somente uma pequena porção sobre como foi nossa experiência. Durante os dias que estivemos ali mais recebemos do que levamos algo às pessoas, contribuindo muito para nossa formação humano-religiosa. Cada casa ou comércio visitado, beco; viela ou escadaria era como a extensão do Evangelho, não por nossa presença, mas pela graça do encontro e da partilha. Perante muitas situações me perguntei ‒ Como essa pessoa ainda consegue sorrir? Um sorriso carregado de fé e esperança, mesmo quando diversas situações, que sabemos que afligem uma comunidade periférica tende a proporcionar o contrário. A partir disso, acredito que cada um pôde refletir acerca de sua vocação de frade menor capuchinho, se somos gratos por inúmeros benefícios que recebemos da parte de Deus.