Carta Oficial sobre o dia da Independência
Mensagem da Conferência dos Capuchinhos do Brasil
INDEPENDÊNCIA PARA QUEM?
Um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no “campo da caridade mais ampla, a caridade política” (Papa Francisco, FT 180)
Aos frades capuchinhos do Brasil e ao povo de Deus,
Que o Senhor nos dê sua paz, que é fruto da justiça (Is 32,17)!
Desde o tempo do Brasil colônia, muitos de nossos confrades capuchinhos caminharam e serviram ao longo de nosso extenso Brasil. Sem dúvida, se depararam com a beleza e a solidariedade presentes, mas também com muita dor, advinda da escravidão e da exploração.
O ato de 7 de setembro de 1822, há exatos 200 anos, dito da “Independência do Brasil”, foi um ato formal, que vinha desligar o Brasil de sua condição de colônia. No entanto, praticamente nada mudou, pois foi negligenciada a participação do povo, que permaneceu ausente das decisões e da condução do nosso país ao longo da história.
Isso ocorreu porque o Brasil sempre foi organizado para servir a interesses externos, por ser uma colônia de exploração, e não para cuidar minimamente de sua população, que apenas devia servir por meio do envio de recursos naturais de grande valia para o exterior. Essa realidade vem se agravando nos últimos anos, com o desmonte das políticas públicas em nosso país, as quais intencionavam qualidade em saúde, educação, emprego e renda... Esse desmonte ocorreu em vista de submeter o nosso povo, cada vez mais, a uma cruel situação de pobreza. Assim, voltamos ao “mapa da fome” nos últimos anos, com 33 milhões de brasileiros hoje passando fome, com 40% dos trabalhadores na informalidade e sem direitos, e o número de favelas dobrou na última década no país!
Essa é a realidade de nossa pátria, que oprime sua população e devasta a sua natureza, para atender a interesses de uma minoria muito rica, e contribui para altos lucros de países estrangeiros... Por isso, neste 7 de setembro, temos de afirmar que o Brasil não é independente, já que seu povo encontra-se oprimido e sua terra, escravizada, vítima de muitos litígios e perseguições a quem mais dela cuida: os povos indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, a população periférica, os ambientalistas, os defensores de direitos humanos...
Recordamos a palavra do Senhor “tenho compaixão deste povo” (Mc 8,2) e a atitude de Jesus na cruz: um “grito” de dor e de desabafo, mas, também, de indignação contra a maldade e a injustiça presentes nesta terra. A misericórdia nos leva, pois, a sentir a vida dos que sofrem e a indignação nos leva a transformar esse sofrimento e essa exclusão, que não são vontades de Deus.
Um país sempre considerado tão cristão, pela acolhida aos de fora, não aprendeu a cuidar de seu povo. Aliás, ultimamente, temos desaprendido o que é acolher, já que se promovem discursos de ódio, de intolerância e assistimos ao aumento do porte de armas, atitudes nada cristãs. Ademais, no Brasil, o país da abundância, há um abismo entre os muito ricos e uma multidão de pessoas na miséria. A palavra de Cristo precisa permear muito mais nossas relações e a realidade de nosso país, para ele ser mais justo e mais fraterno!
A enorme desigualdade social do Brasil dói muito em nós. Contudo, não podemos parar na dor, temos de avançar, como fez o Bom Samaritano, com indignação diante da injustiça e do sofrimento, e transformar, com o nosso compromisso e com o cuidado ao próximo ferido, a situação de dor. Temos muito para fazer. Estamos no tempo da “Igreja, hospital de campanha” e “Igreja em saída”, nas palavras de nosso querido papa Francisco, inspirado em Francisco de Assis, e não podemos ser Igreja fechada em si mesma e satisfeita só com suas atividades internas, enquanto “99 ovelhas” padecem ao nosso redor.
Por um Brasil democrático, justo e pacífico, vamos direcionar nossos esforços, nossas atividades e nossos compromissos! Para isso, a “política”, como nos ensina o papa Francisco, é o importante espaço dessa transformação. Por meio dela, podemos garantir políticas públicas por mais saúde, educação, emprego digno, moradia, cidades acolhedoras, enfim, “vida digna a todos” (Jo10,10). Por isso, nestas eleições “VOTEMOS PELA SUPERAÇÃO DA INJUSTIÇA E DA DESIGUALDADE SOCIAL”!
Brasília, 7 de setembro de 2022 Bicentenário da Independência do Brasil