Em Memória de Frei Lauro Maria Crivellaro

Em Memória de Frei Lauro Maria Crivellaro

FREI LAURO CRIVELLARO

 

Nascimento: Fratta Polesine (RO), 29/11/ 1930

Vestição: Lovere,14/08/1948;

Profissão temporária: Lovere, 15/08/1949;

Profissão perpétua: Milão, 15 /08/1952;

Ordenação Sacerdotal: Milão (San Bernardino alle osse), 25/02/1956;

Missionário no Brasil: Fortaleza, 06/01/1957;

Falecimento: Barra do Corda, 27/06/2022.

 

Frei Lauro Crivellaro nasceu na pequena comuna italiana chamada Fratta Polesine (Rovigo), aos 29 de novembro de 1930,filho de Alfredo Otello e Elvira Milan. Recebeu no batismo o nome de Angelo Otello. Sua família, de origem veneta, chegou a Seregno (Lombardia) ainda quando ele era muito pequeno. Foi naquele ambiente, marcado pelas dificuldades da II Guerra Mundial, que a experiência de trabalho veio talhar a vocação empreenditorial que frei Lauro iria exercer nos lugares onde passaria como missionário. Apesar de ser formado nas tradições italianas oriundas de seus familiares, ao se preparar para a Missão, foi desafiado a introduzir-se em uma nova cultura com costumes diferenciados. Podemos afirmar que Frei Lauro passou na prova e conseguiu concluir com nota máxima o seu serviço missionário. Apesar de ele ter superado a marca temporal de tantos outros missionários de relevo pelas obras e pelos feitos, preferiu ficar retirado em uma única região: a Prelazia (sucessivamente constituída Diocese) de Grajaú/Maranhão/Brasil. Todavia ele sempre manteve seu espírito e caráter de seriedade e responsabilidade, talvez demasiadamente profissional, deixando as mãos falarem mais do que os lábios. Seu agir e suas obras no meio daquele povo testemunham tudo isso e eternizam sua figura na história do Povo de Deus no Maranhão.

O Brasil foi o campo de trabalho de Frei Lauro, que chegou a esta terra primeiramente em Fortaleza-CE, no dia 6 de janeiro de 1957, juntamente com frei Evaldo Giudici. Os dois foram logo encaminhados para Juazeiro do Norte, onde a então Custódia do Maranhão exatamente um ano antes (1956) havia inaugurado o grandioso Santuário de São Francisco das Chagas. Frei Lauro ficou pouco tempo naquela fraternidade. Na companhia do missionário veterano Frei Hermenegildo Rota voltou para Fortaleza, permanecendo acolá algumas semanas. Da capital cearense rumou para o Maranhão, terra que o adotou ao longo de seus mais de 60 anos de missão.

Apenas chegado ao Maranhão foi introduzido no vasto e difícil campo pastoral da Prelazia de Grajaú, que naquela época estava expandindo suas fronteiras com a fundação de várias paróquias sob a gestão do “pequeno grande” Bispo Dom Emiliano Lonati. No dia 24 de junho de 1957 chegava a Presidente Dutra. Em seguida, ao voltar a Grajaú recebeu a notícia de sua destinação: Esperantinópolis. Nesta cidade, porém, permaneceu pouco tempo, pois foi logo destinado para a cidade de Dom Pedro, onde também ficou apenas por alguns meses. Daquela paróquia seguiu para Barra do Corda, percorrendo parte do caminho de jipe e parte a pé, por causa de uma falha mecânica no carro. Também em Barra do Corda permaneceu só por um breve período, pois o Bispo prelado o requisitou para trabalhar na sede da Prelazia.

Grajaú abrange a maior parte dos capítulos do livro da vida de Frei Lauro, podendo ser divida em duas etapas: a primeira, de 1958 a 1984. A segunda, de 1998 a 2014. Naquela cidade chegou exatamente no domingo do dia 6 de janeiro de 1958, às 14h, segundo o testemunho do próprio frei Lauro. A experiência de trabalho que ele tinha herdado de sua família foi útil para ele no desempenho de seu serviço missionário no Brasil. Assim, em pouco tempo, seu apostolado sacerdotal rapidamente se manifestou, bem como seus dotes de construtor. Na primeira passagem por Grajaú trabalhou diretamente comas crianças e os jovens no Oratório juvenil e nos grupos paroquiais e também no atendimento aos alunos do Colégio Antoniano e nas periferias. Construiu o Estádio de futebol “Concórdia” e uma creche escolar no bairro Fazendinha, graças aos recursos obtidos através do Cinema-Teatro que leva o seu nome, no bairro Cidade Alta. Os grajauenses costumavam lotar a sala para assistir a projeção de filmes dos mais variados gêneros. Além disso, ele atendia as inúmeras comunidades na desobriga, na época em que a paróquia de Grajaú chegava até os confins da paróquia de Montes Altos. Desse período há numerosos testemunhos de vida cristã por parte dos sertanejos que habitavam os interiores da imensa paróquia. A evangelização naquele sertão acontecia através da desobriga, da catequese e de cursos para os dirigentes das comunidades. Depois de nove anos trabalhando na desobriga, ele foi nomeado Cura da Catedral de Grajaú em 1968, permanecendo como pároco até 1974, quando foi nomeado vigário paroquial e desobrigante. Na igreja catedral promoveu a reforma da capela lateral de São José. Sucessivamente foi enviado a Barra do Corda para dirigir a Escola Nossa Senhora de Fátima, conhecida como “Colégio Diocesano”. Na sua gestão enriqueceu as estruturas do colégio com equipagem esportiva e campo de futebol, introduzindo o esporte na grade curricular. Por quinze anos neste colégio formou uma geração de barra-cordenses. Lecionou sociologia, filosofia, português e ensino religioso.

Em fevereiro de 1998, terminado o período de sua presença em Barra do Corda, deixou a cidade de madrugada, sem querer despedir-se do povo. Retornando a Grajaú, com o mesmo vigor e ânimo de quinze anos antes, construiu a creche Flor de Maria na Cidade Alta, e a creche Menino Deus no bairro Mangueira. Observa-se um estilo peculiar nas igrejas construídas por ele, bem visível na igreja de Santo Antônio, no bairro Mangueira em Grajaú e na igreja do Calvário em Barra do Corda, dotada de uma característica torre campanária. Obedecem ao mesmo estilo as igrejas de São João Batista em Formosa da Serra Negra e a antiga Igreja de São Francisco de Assis no bairro Canoeiro, em Grajaú.

A Frei Lauro Crivellaro os fiéis grajauenses acrescentaram outro sobrenome: Trabalho. A bordo do seu velho caminhão, vestindo um hábito surrado, usava um cinto de couro no lugar do cíngulo; a longa barba contrastava com os poucos cabelos na cabeça, detalhe mínimo de sua face, pois chamavam mais a atenção os seus penetrantes olhos azuis. A feição europeia se misturou ao jeito sertanejo. As mãos e os pés calejados testemunham o inexaurível trabalho desenvolvido unicamente pelo Reino de Deus naquela porção do Maranhão. A rotina cumprida disciplinadamente lhe moldou a personalidade, quase fosse um monge. Apesar de parecer bastante introspectivo, foi sempre atento ao que se passava no Brasil e no Mundo; era leitor assíduo de jornais e revistas.

Sua vida foi inteiramente vivida para Deus e só a Ele cabe conhecer Frei Lauro Maria Crivellaro, que nos deixou, marcando a impressão de seu vulto na memória das pessoas que tiveram a graça de conhecê-lo. Louvado seja Deus pelos seus missionários. Amém.

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