Encontro de JPIC da Ordem em Frascati

Encontro de JPIC da Ordem em Frascati

De 30 de janeiro a 2 de fevereiro, representantes do serviço capuchinho de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) dos vários continentes, alguns representando o serviço em sua respectiva Conferência, se reuniram em Frascati, Itália, para um aprofundamento do serviço na Ordem, em vista do Capítulo Geral, a se realizar no próximo semestre.

Contando, inicialmente, com a exposição do animador de JPIC da Ordem dos Conventuais, frei Michael Laski, foi reforçado que a JPIC está no DNA franciscano, como valores a serem animados e aprofundados. Ele aprofundou, contudo, o que significa ter um DNA franciscano.

“O que os frades entendem por justiça... algo que tem a ver com lei, pensam nos protestos, mas é mais que isso... Francisco beija o leproso, começa a conversão no encontro com o leproso, decide ser fiel a este DNA que começou... Justiça como solidariedade. No abraço, ele se põe no lugar do leproso, não dá a outro fazer e se torna amigo dos leprosos... temos de fazer o que fez Francisco... vai e se torna “um com o outro”. Já a paz é criar relações juntos e crescer nas relações. Compartilhar a plenitude do Reino com a própria vida e a paz chega através das relações de amizade. E restaurar a integridade, como do leproso. Que os freis vivam em relações de amizade e proximidade. Quem é o leproso hoje? Vão aos “leprosos” hoje, às famílias destruídas... Ser capaz de dar uma nova narração a esta realidade, este é nosso DNA, fomos “programados”, chamados para isto... e isto é anunciar que Jesus é o Senhor. O Papa Francisco busca com as bênçãos dar uma integridade aos rejeitados, o Papa não faz nada mais, nada menos do que Francisco de Assis”.

E ainda completa: “Quando Francisco e os freis retornam de Roma, um jovem frei que jejuava e não conseguia mais, começa a chorar, era um “leproso” na vida franciscana... e Francisco ficou solidário com ele. Não deixa ele embaraçado, despertou a todos e comeram com ele. Começa um novo grau de relação. Se Francisco fosse rígido, a fraternidade se quebraria. Porém, a fraternidade sobrevive pela santa flexibilidade de Francisco, lei da gentileza, muito mais forte que não cumprir um jejum. Esta é a compreensão franciscana do jejum, em que a pessoa é mais importante. A flexibilidade de Francisco é uma extensão da Eucaristia. Fazendo isso, proclama que somos maiores do que o jejum, pois escuta o grito do irmão sofrendo. Assim dá um significado a nossas penitências. Ver quem é meu leproso... O que significa ser franciscano hoje... Pregar tocando na vida. A homilia poderia se resumir “em sermos gentis”.

Dessa forma, a paz, a justiça e a integridade da criação são valores bíblicos e são “relacionais”. A justiça sempre é medida em relação ao outro, por exemplo, numa sociedade em que todos podem usufruir de certos bens, tê-los não conota injustiça, mas em uma realidade de grande carência, possuir certos bens reservados a poucos já indica uma desigualdade ou injustiça. A paz também acontece nas relações cultivadas a partir do diálogo e da compreensão da realidade do outro. E a ecologia se autodefine como a ciência da “relação” entre os seres humanos e os outros seres e a relação com o meio em que vivemos. Assim, sendo “relacionais” não se reduzem a um trabalho assistencial ou a determinadas atividades, muito antes nos conduzem a respostas atualizadas no contexto em que vivemos. O serviço JPIC a isso busca aprofundar, com o envolvimento dos frades, para uma transformação da realidade, seja onde estamos, seja na sociedade em que estamos inseridos, em vista de responder aos apelos da justiça e da paz, da integridade de toda a criação, como o faz Francisco de Assis: na mediação para a paz entre o bispo e o podestà, na relação com os leprosos de seu tempo a partir da justiça, na integração do “lobo” em Gubbio...

         Neste encontro em Frascati, frei Joel de Jesus, atual animador de JPIC da Ordem dos Capuchinhos, também apresentou a nova versão do manual JPIC, na qual esteve à frente na elaboração. Acrescentou uma parte de formação e animação a quem atua com a JPIC, e se pode acrescentar iniciativas e propostas das Conferências e circunscrições ao material quando usá-lo. Assim, este manual vai crescer em cada região. O material conta com uma fundamentação inicial a partir da Palavra, de Francisco de Assis e das fontes capuchinhas, seguido de uma base do Ensino Social da Igreja e de um embasamento a partir das Constituições e de todos os CPOs da Ordem. Por fim, traz organizações, ferramentas e meios para integrar a JPIC com as outras dimensões de nossa vida.

Num terceiro momento do encontro, tivemos ainda a partilha de todos os representantes de JPIC da Ordem presentes no Encontro. Algumas iniciativas muito interessantes, como o projeto no Convento em Camerino para ser um espaço Laudato Si’, o centro de diálogo inter-religioso dos capuchinhos na Índia e, no Brasil, a parceria com a CNBB, a Família Franciscana, as diversas formações, bem como a presença nas periferias e em meio às comunidades indígenas. Dentre muitas outras, destacamos ainda os refeitórios aos pobres na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos, e a presença da JPIC capuchinha em áreas afetadas por desastres no Sudeste da Ásia e o empenho na conservação das florestas.

Por fim, os frades participantes se detiveram a propostas para fortalecer o serviço JPIC na Ordem, como retomar a constituição de uma Comissão Internacional de JPIC na Ordem, a necessária instalação ou o fortalecimento da Comissão JPIC em cada circunscrição, a realização de um Conselho Plenário da Ordem, (CPO) sobre JPIC, tendo em vista ainda a fragilidade e a falta de compreensão dessa dimensão do carisma, e a contribuição das Comissões JPIC na elaboração da Ratio Formationis localis, nas respectivas circunscrições.

Autor:
Frei Marcelo Toyansk, OFMCap
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