O trabalho humano no ensino social da Igreja

O trabalho humano no ensino social da Igreja

Desde a primeira página da Bíblia Sagrada está presente a questão do Trabalho Humano. O livro do Gênesis coloca a Pessoa Humana como co-participante da obra da criação. Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho do carpinteiro, aprendeu o ofício do pai adotivo. Os Apóstolos que Jesus de Nazaré escolheu, na sua maioria, eram pescadores, de profissão.

Ao longo da história da Igreja, desde os Santos Padres, passando pela Idade Média, o trabalho humano é visto como uma maravilhosa participação do Ser Humano na organização da vida e participação na obra de Deus. O trabalho tinha um cunho familiar e artesanal.

A chamada “revolução industrial” (1750-1900) introduziu as máquinas, substituindo muito o trabalho humano. Aconteceu uma radical transformação no caráter do trabalho, ou seja, a separação entre trabalho humano, de um lado, e capital e meios de produção, de outro. De uma parte proporcionou diversos benefícios: o poder das máquinas multiplicou em muito a capacidade de produzir bens, alimentos e equipamentos; mas, ao mesmo tempo, ocasionou muitos problemas, especialmente para a classe operária: o poder se concentrou nas mãos de poucos; a grande maioria das pessoas era oprimida, explorada e recebia um pequeno salário; os operários eram obrigados a longas jornadas de trabalho; subalimentação, moradia precária.

 

A Igreja Católica se defronta com uma situação que a obriga a tomar posição. Com a organização dos Trabalhadores/as, reivindicando seus direitos trabalhistas e a sistematização das teorias marxistas e socialistas, surgem os sindicatos de trabalhadores. O conflito capital X trabalho (capitalistas e trabalhadores) se acirra e toma formas organizadas de uma verdadeira Luta de Classes.

A história do “1º de maio” remonta ao ano de 1886. Como muitos dos trabalhadores começaram a se organizar para reivindicar melhores condições de trabalho, fundando sindicatos, os patrões simplesmente chamavam a polícia para dispersar as manifestações públicas e prender os sindicalistas mais combativos. Em Chicago, nos Estados Unidos, em 1º de Maio de 1886, aconteceu uma greve geral. Milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Naquele dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi dura: houve prisões, feridos e mortos nos confrontos entre os operários e a polícia. Em memória dos mártires de Chicago, das reivindicações operárias que nesta cidade se desenvolveram, em 1886, e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores pelos seus direitos, servindo de exemplo para o mundo todo, o dia 1º de maio foi instituído como o Dia Mundial dos Trabalhadores, em 1889, por um Congresso Socialista realizado em Paris.

Com o Papa Leão XIII, inicia uma nova relação da Igreja com o mundo do trabalho. Em 1891, publica a Encíclica Rerum Novarum. Nela estão presentes vários elementos que envolvem o mundo do trabalho humano, a empresa, os sindicatos, os direitos sociais e trabalhistas, entre outros...

Em todas as Encíclicas Sociais, dos Documentos das Conferências Episcopais Continentais ou nacionais, muitas são as abordagens sobre o Trabalho Humano. Vamos nos ater a uma citação que consideramos essencial para entender o conflitivo mundo da relação entre capital e trabalho humano. É do Papa João Paulo II. A realidade histórica permeia-se de um conflito social de grandes proporções. É um conflito que se encarnou no seio da sociedade e tem sua origem numa falsa concepção da relação trabalho – capital (propriedade). Existe um “conflito real... entre o mundo do trabalho e o mundo do capital e daí, e sempre com caráter de conflitos derivados, passa-se para o nível das ideologias e dos movimentos históricos: o conflito real que existia entre o mundo do trabalho e o mundo do capital transformou-se na luta da classe programada, conduzida com métodos não apenas ideológicos, mas também e, sobretudo, políticos” (LE 11d).

Encontramos também, de forma tendenciosa alguns equívocos no “tratar” a questão do dia 1º de maio: 1º) Considerá-lo como “Dia do Trabalho”, permanecendo somente no “fazer” da Pessoa Humana e não no seu conjunto de fatores e elementos que envolvem a realidade global da atividade humana; 2º) Atender somente às comemorações festivas, lúdicas, musicais... Entender o Dia como uma mera “comemoração”, chegando a conceber esta realidade complexa com uma “visão folclórica”; 3º) Ou então, permanecer somente numa ótica moralista, a qual falseia a natureza do conflito social, permanecendo somente em alguns aspectos particulares e subjetivos do conflito. Esta realidade é complexa e exige um discernimento profundo, com a ajuda das ciências.

Recentemente fomos surpreendidos por denúncias de “trabalho escravo”. E a mídia quer nos fazer entender que são “situações análogas” a trabalho escravo. Como nossa sociedade é hipócrita!

Na concepção cristã, na proposta de Deus, o trabalho humano e os meios de produção exigem um tratamento de complementaridade, dando ao ser humano uma prioridade. Ao mesmo tempo, surge o desafio de superar as desigualdades econômicas, sociais e culturais, pois estas são produzidas por mecanismos sociais, possuem raízes sociais, dependem de decisões humanas, de pessoas que “comandam” a vida local, regional, nacional, mundial.

Mais do nunca, nos tempos atuais é preciso lutar pelo direito ao Trabalho digno, mas também que este trabalho respeite a pessoa que o realiza, juntamente com seus direitos humanos e trabalhistas fundamentais.  

Abaixo segue a mensagem deixada pelo frei Wilson Zanatta que reside na Fraternidade intercongregacional Padre Josimo junto ao Assentamento Conquista da Fronteira em Hulha Negra/RS e explica o trabalho na concepção franciscana, partilhando um pouco do trabalho desenvolvido junto às comunidades. 

Autor:
Frei Wilson Dallagnol, OFMCap
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