“Partilhar de todas as cruzes” O missionário das crianças e da vida

“Partilhar de todas as cruzes” O missionário das crianças e da vida

Caros leitores:

Paz e Bem!

 

Nos últimos artigos conhecemos um pouco mais a vida do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò em Uberaba e conhecemos, também, um pouco da espiritualidade que, como Frade Menor Capuchinho, fecundou toda sua vida e suas ações, inspiradas em São Francisco e Santa Clara de Assis. Vimos ainda que, quando morou no orfanato em Messina, afigura dos frades esmoleres o inspirou a ser frade capuchinho e, assim como estes frades que pediam esmola para os conventos, ajudavam os pobres e que conheciam bem a vida do povo e suas dificuldades, Frei Gabriel quis consagrar a sua vida a Deus vivendo o Evangelho na simplicidade e na humildade. Aqui continuaremos a tratar dessa característica da identidade capuchinha de comprometimento com o povo pobre e, por conseguinte, apresentaremos dois relatos de pessoas que conheceram o Frei Gabriel.

No seu livro Oeuvres spirituelles, o Irmão Charles de Jesus (ou Charles de Foucauld) escreveu: “Não julgo ninguém, meu Deus; os outros são vossos servos e meus irmãos, e eu só devo amá-los, fazer-lhes o bem e rezar por eles, mas para mim é impossível compreender o amor sem a procura da semelhança, o amor sem a participação em todas as penas, sem o ardente desejo da conformidade da vida e sem a necessidade de partilhar de todas as cruzes”.

Sim, isto diz bem alto a respeito da espiritualidade vivida por Frei Gabriel: “partilhar de todas as cruzes”. Ele fazia e agia por amor a Deus! Ele, o Servo de Deus, amava a Deus no irmão e, de tal modo, ficava empenhado nas ajudas que lhe era comum esquecer-se de si mesmo, do seu alimento, do seu descanso, da sua aparência. Ele então se entregou totalmente a esta dinâmica de “partilhar de todas as cruzes” e entregou aos pobres a sua própria liberdade, que se transformou em ocasião de servir. Diria com São Paulo: “De fato embora eu seja livre em relação a todos, de todos me fiz servo, a fim de ganhar o maior número” (1Cor9, 19); “Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar a todos. E tudo faço pelo Evangelho, para me tornar participante dele” (1Cor 9, 22).

Frei Gabriel dedicava-se, inclusive às crianças. Levava-as à igreja, ao catecismo e reunia-as em passeio se sabia como ninguém animar um grupo de crianças com a sua presença amiga e alegre. Conta-se dele que às vezes era “brabo” e até dava seus “coques”, mas sempre quando era mesmo necessário. Alma franciscana por vocação, sabia dosar a reflexão séria com a sadia alegria de viver e do lazer.

Certa vez, ele passava pela cidade de Franca a caminho de Casa Branca (ambas no Estado de São Paulo), levando um jovem para ser tratado pelo médico. Em Franca, viu uma padaria com o nome “Pucci” e eis que se lembrou dos italianos que compõem a família, hoje filhos do velho Francisco Pucci. Todos foram grandes benfeitores de Frei Gabriel e dos Frades Capuchinhos. O senhor Francisco Pucci possuiu, inclusive, antigamente uma padaria chamada “Espéria”, em Uberaba.

Nessa ocasião, Frei Gabriel foi levado à casa de Dona Alda Pucci, na cidade de Franca, onde tomou refeição num alegre convívio de irmãos na fé. As crianças ficavam encantadas com a sua simplicidade e faziam-lhe muitas perguntas. De modo peculiar a barba inspirava-lhes enlevo e despertava-lhes a curiosidade. Nunca tinham visto um homem tão barbudo! Conta-se que uma das crianças lhe perguntou:

O Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò

- “O senhor quando dorme, põe a barba por baixo ou por fora da coberta?”

E ele respondeu brincando:

- “Ponho dentro da gaveta da mesa”

As crianças estalaram os olhos, admiradas, e por muito tempo acreditaram na história!

Sua alma simples e seu jeito humilde de capuchinho sempre o fizeram ter contato com todas as pessoas e a todas levar uma palavra de ânimo e conforto. Os cuidados empenhados em favor da vida, desde a infância até a velhice, fizeram com que sempre estivesse a serviço, seja dos seus confrades nos Conventos ou das outras pessoas pelas ruas. Quando nos seus contatos com as crianças, dedicava-se ao cuidado, à alegria e a evangelização. No seu jeito simples e “italianado” sempre se colocou ao lado delas para a promoção da vida, da formação e do resgate de sua dignidade. Conta-se que as crianças da Casa da Criança Santo Antônio, em Frutal, pediam-no a bênção dizendo:

“A bênção Vovô Gabriel”.

Como tratamos em vários momentos do cuidado do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò com as crianças, vejamos agora dois depoimentos.

 

1) Dona Maria Dulce Andrade, de Carmo do Paranaíba/MG, que conviveu com o Frei Gabriel na sua infância:

 “Lembro-me dele assim: alto, forte, alegre, trabalhador. Nos meus 5 (cinco) anos ele chegava cansado do trabalho pesado, com o hábito sujo, virada até a cintura e amarrada com o cordão. Tombava o tamborete, se assentava e conversando e rindo ia fazendo um ioiô. Depois amarrava ao meu dedo, pegava meu antebraço e fazia o movimento de jogar o ioiô. Eu com a mão aberta acompanhando o ‘jogo’. Como minha mão era muito pequena, ele ria e dizia ‘abre a mão, menina’. E dava uma gostosa risada. Ele não só construía a ‘igreja templo’, pois, fazia os trabalhos mais pesados de arrancar pedras e carregar para o alicerce da igreja São Francisco, como também a ‘Igreja povo’, ensinava o povo a rezar, dispensando atenção, carinho com os mais necessitados. Viveu o carisma de São Francisco na pobreza, obediência e amor aos pobres. Desde menina ouvia os comentários da minha família e de todos que o conheciam: ‘Frei Gabriel é um santo’. Hoje posso entender isto e confirmar: ‘Frei Gabriel foi um santo e hoje com certeza, vive uma vida plena no céu’.

2) Sr. Adolfo Batista Carneiro, natural de Itapagipe/MG, nos relata a sua história com o Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò. História que vem confirmar a sua solicitude em atender a quem precisava, sem discriminação e doando da maneira que fosse preciso. Vejamos o seu relato:

 “Nos idos de 1965, eu estando acamado e muito debilitado, fui levado por minha mãe a um postinho de saúde, nesta época eu já morava na cidade de Frutal/MG. O Dr. Garibalde foi quem me atendeu, diante da minha fraqueza e palidez recomendou urgente uma transfusão de sangue. Minha mãe desesperada recorreu a tia dela. A Tia Eulâmpia, muito católica, gostava de ajudar na casa paroquial, na Igreja Matriz e por isso tinha muita amizade com o Frei Gabriel. Aconteceu que o Frei Gabriel sabendo da minha situação, creio que por sua imensa bondade em socorrer os fracos e oprimidos, se dispôs a doar o sangue necessário à minha necessidade. Eu ainda me lembro da minha mãe me carregando nos braços e parando para descansar um pouco até chegar ao Hospital São José, onde recebi o sangue doado pelo Frei Gabriel. Ele havia doado tanto sangue que sobrou, minha mãe correu em casa e buscou meu irmão Celso Batista Carneiro que recebeu a outra parte do sangue, visto que também estava debilitado. Não sou só eu, são incontáveis as pessoas que o Frei Gabriel socorreu, suas obras no asilo, suas andanças pelas fazendas conseguindo contribuição fez dele um homem memorável. Esta é a impressão que ficou, nas minhas veias, sangue de um ‘homem santo’. Saudações”.

 Agradecemos à senhora Maria Dulce e ao senhor Adolfo pelas contribuições com seus relatos. Em breve voltaremos, continuando a nossa jornada para conhecer melhor a vida e as realizações do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò.

Paz e Bem!

Foto principal: Frei Gabriel junto com algumas crianças na frente da Casa da Criança Santo Antônio de Pádua, em Frutal.
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Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap

Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap


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Obs.: Pedimos às pessoas de Uberaba que se tiverem alguma lembrança, de algum fato, alguma história ou alguma foto do Servo de Deus Frei Gabriel, que entre em contato conosco pelo e-mail: freigabriel@capuchinhosmg.org.br.

Autor:
Vice Postulação da causa do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò
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