QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022
No próximo dia 2 de março iniciaremos a Quaresma. Cada ano este tempo abre o ciclo pascal, renovando em nós o convite à conversão, à renovação de nosso batismo, de nossa consagração religiosa e de nosso ministério sacerdotal, bem como convocando todo o povo de Deus a uma renovação da vida.
A Quaresma não é um tempo que simplesmente se repete todo ano, mas que nos propõe uma busca progressiva de maior união com Cristo e com o mistério pascal. Não é apenas preparação penitencial para a Páscoa, mas para a vida toda.
Durante esses quarenta dias de Quaresma nós nos motivamos (e também nossas comunidades) a realizar a experiência do povo de Deus no deserto, que amadureceu sua fé em meio às dúvidas, hesitações, confiança e exercício contínuo de caminhada rumo à terra prometida, deixando para trás a escravidão do Egito; e procuramos reavivar em nós a experiência de Jesus que, no jejum e na oração no deserto, superou as tentações e assumiu com determinação sua missão em prol do Reino de Deus e de tudo o que ele significa.
Na Quaresma e na Páscoa percorremos com Cristo o caminho que vai do deserto, à vitória sobre o mal e a morte. Assim, mais fortalecidos e iluminados pelo mistério pascal do Senhor, podemos enfrentar as contradições da vida, os sofrimentos, as escravidões, as formas de idolatria e tudo o que dificulta ou destrói a vida pessoal, eclesial, provincial, comunitária e social. Pelos exercícios quaresmais, pela dedicação de maior tempo à oração, à meditação, à prática da caridade e ao jejum, em contraposição às tentações fomentadas pela cultura capitalista, buscamos fortalecer as razões de nossa esperança cristã de um mundo transformado, mais justo e solidário.
Em sintonia com o convite à conversão quaresmal, a Igreja no Brasil apresenta, cada ano, através da Campanha da Fraternidade, um tema para a conversão social. Porque, como diz o Concílio Vaticano II, “a penitência da Quaresma não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (SC 110). Notamos que a nossa sociedade permanece marcada pelo individualismo, pela desigualdade social, pelo capitalismo selvagem excludente e pela tirania do dinheiro. É oportuno, então, nos perguntarmos (e levar a sociedade a se perguntar): até que ponto nos deixamos levar por essas negações da solidariedade, da fraternidade, da justiçado Reino e dos valores ensinados por Jesus?
Este ano a Campanha da Fraternidade fala da “Educação”. Esse assunto já foi tratado em duas Campanhas anteriores: em 1982, com o tema: “A Verdade vos libertará” e em 1998, com o tema “A serviço da vida e da esperança”. Este ano o tema é: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26).
Poderíamos perguntar: Por que o interesse da Igreja pela Educação? Certamente é porque ela pode contribuir significativamente com este assunto devido sua participação histórica no âmbito educacional e também porque, na realidade atual, os desafios da educação foram potencializados e a busca de soluções precisa envolver ainda mais as famílias, as instituições de ensino e a sociedade como um todo. Outro ponto importante que justifica o tema da Campanha deste ano é que o Papa Francisco está convocando as famílias, as escolas e toda a sociedade para um “Pacto Global pela Educação”.
Sabemos que a questão educacional se ampliou muito nos últimos tempos; os educadores não são somente os pais e professores (embora estes continuam sendo os principais responsáveis), mas também as redes sociais, a televisão, a música, a religião, enfim, todas as instituições têm algum impacto educativo. Daí a importância desse tema para a Campanha da Fraternidade deste ano.
Para concluir, faço uma constatação: nós freis capuchinhos, nestes mais de cem anos de Missão, muito contribuímos com a Educação nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Paraguai. Isso de forma direta como, por exemplo, incentivando a criação de escolas, ou administrando colégios (o Colégio Anchieta de Capinzal, o Colégio São Francisco de Curitiba, o Ginásio Assunção de Uraí), disponibilizando freis professores para instituições, educando centenas de adolescentes e jovens em nossos seminários, que depois seguiram outros caminhos, mas continuam “Sempre Capuchinhos”; além disso, todo nosso trabalho de evangelização teve (e tem)grande influência na área educacional. Podemos nos alegrar com isso! Mas é sempre necessário buscar novos caminhos e novos métodos, levando em consideração a nossa gente, sua cultura, sua realidade social, política, econômica e social, para que cada vez mais seja contemplada a dimensão educacional em nossos trabalhos de evangelização.