Vocação Familiar: caminho de santidade.

Vocação Familiar: caminho de santidade.

É preciso redescobrir a força semântica, bíblica, espiritual, humana, cristã, da palavra “vocação”. É como se a palavra precisasse ser terapeutizada, no sentido que comumente ela está associada à vida sacerdotal, religiosa, e pode ser que a usamos pouco para falar de família. Constituir uma família é uma das mais belas, profundas e necessárias vocações na vida da Igreja. No ambiente familiar, estão todas as potencialidades que a pessoa humana precisa para desenvolver todas as suas capacidades e realizar o dom de Deus e seu projeto para cada um.

Padre Zezinho canta: que nenhuma família comece em qualquer de repente! Para que a família não comece num qualquer de repente, é preciso falar de vocação para a vida familiar. A maior inspiração vocacional para a família é um casal que se ama segundo o coração de Deus. Ver o desabrochar da vocação familiar em seu próprio lar, certamente desperta o desejo da vida matrimonial, o desejo de ter sua família em Deus. O contrário, também, pode ser um desastre vocacional.

Família, todos temos. Família, nem todos somos! Ser família é mais do que pertencer a esse núcleo sociológico de agregação. Não é, tão somente, ter uma família, mas ser família. Ter uma família é o ponto departida, um dado de realidade que pode ser estabelecido por nascimento ou lei. No entanto, ser uma família é uma conquista diária, um exercício constante de amor e compreensão. Uma família forte é aquela que se esforça continuamente para ser um suporte genuíno e incondicional uns para os outros. É na vivência e na prática dos valores cristãos familiares que o verdadeiro sentido de ser família se revela, transformando laços formais em conexões profundas e duradouras.

Ao dar forma à experiência concreta do amor, o matrimônio e a família manifestam o alto valor das relações humanas, na partilha das alegrias e das dificuldades, no desenrolar da vida quotidiana, orientando as pessoas para o encontro com Deus. Este caminho, quando vivido com fidelidade e perseverança, fortalece o amor e realiza aquela vocação à santidade, própria de cada pessoa, que se concretiza nas relações conjugais e familiares. Neste sentido, a vida familiar cristã é uma vocação e um caminho de santidade, uma expressão do "rosto mais belo da Igreja"(Gaudete et Exsultate 9).

Em um ambiente cultural onde as relações são cada vez mais efêmeras, viver a vocação familiar segundo os princípios católicos não apenas enriquece as próprias vidas, mas também serve como um belo testemunho do amor eterno e imutável de Deus. Enquanto o mundo, como mentalidade, tende a valorizar a conveniência e a gratificação imediata, o hedonismo, a fé católica exorta os fiéis a abraçarem o compromisso duradouro, o amor sacrificial e a permanência. Essa é uma luz que as famílias que nasceram, por vocação, precisam deixar, permanentemente, acesas, como que um farol, para o mundo em que vivemos, de amores diluídos e fugazes. Casais e famílias que perseveram em sua vocação se tornam sinais visíveis do amor de Deus em um mundo que muitas vezes rejeita o compromisso duradouro.

Nossa juventude, vocacionada à vida familiar, precisa ser educada, instruída, a entender a vocação familiar como um chamado ao amor sacrificial, inspirado no amor de Cristo pela Igreja. O matrimônio não é apenas um contrato social, mas uma aliança sagrada que requer um compromisso vitalício. Esse sacramento fortalece os cônjuges para viverem sua vocação em meio aos desafios e às incertezas da vida contemporânea.

A família é considerada a “igreja doméstica”, onde os pais têm a responsabilidade de educar os filhos na fé. Responder à vocação familiar significa criar um ambiente onde os valores cristãos são vividos e transmitidos, garantindo que as futuras gerações compreendam a profundidade e a beleza do amor verdadeiro.

Por fim, responder à vocação familiar, na perspectiva da doutrina católica, em tempos de "amores líquidos" exige uma compreensão profunda do compromisso, da fidelidade e do amor verdadeiro, características centrais da visão católica sobre a família. O conceito de “amores líquidos”, popularizado pelo sociólogo Zygmunt Baumann, descreve a fragilidade dos vínculos humanos na sociedade moderna, onde as relações se tornaram transitórias e superficiais, facilmente descartáveis diante de dificuldades ou mudanças de interesse. Rezemos para que, no canteiro das divinas vocações, nasçam belas flores para a vocação familiar.

Autor:
Frei Mário Sérgio dos Santos Souza, OFMCap
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