Vocação: qual o ponto de partida?

Vocação: qual o ponto de partida?

A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens pelo seu Espírito aluz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; (...) Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. (Gaudium et spes, 10)

 

Sobre vocação, nunca se fala demais. Ainda temos muito para aprender, para falar, para escrever, para refletir... Sobretudo porque vocação se refere à pessoa humana, que é sempre filho e filha do seu tempo. Se o tempo e as circunstâncias mudam, então o nosso olhar sobre o tema da vocação não pode ficar estagnado num momento ou numa época qualquer. Mas, certamente, o essencial permanecerá. E qual é esse essencial? Há um Mestre que chama, que toma a iniciativa, que nos encontra em nossos afazeres cotidianos, inclusive, em lugares que nem sequer, somos capazes de imaginar. Esse chamado é inquietante e desconcertante!

Existem tantos desafios para afrontar a temática da vocação em nossos tempos. Mas, parece-me que de duas perspectivas não podemos nos eximir: cristológica e eclesiológica. O ponto de partida é sempre o Cristo. É Ele o modelo do chamado e da resposta. É a partir do anúncio de Cristo que a teologia da vocação encontra a luz necessária para iluminar os desafios da cultura contemporânea. O Cristo que passou pelo mar da Galileia e chamou alguns pescadores, hoje passa, também, pelos ambientes digitais e continua chamando. A perspectiva cristocêntrica não é uma alternativa aquela eclesiocênctrica, mas é sua raiz mais profunda. Seria, a crise vocacional, um problema de anúncio do Cristo e seu mistério? Um anúncio que possa afirmar a plenitude do mistério do Cristo, o Redentor da humanidade e do mundo (Redemptor hominis), e que, portanto, possa proclamar que somente com Ele é possível responder às grandes questões da vida e encontrar a reconciliação profunda e a unidade que todos almejamos: Cristo, projeto do homem novo.

Outro aspecto é que para compreender e apreciar a vocação cristã e as demais vocações, é necessário considerá-las à luz do mistério da Igreja. Muitas vezes, as dificuldades vocacionais estão relacionadas com um conhecimento e uma vivência insuficientes da Igreja. O conceito de vocação está inseparavelmente ligado ao mistério da Igreja, à sua vocação e à sua missão. Entendo que aqui está o nó da questão! Qual é o conceito ou o modelo de Igreja que está na cabeça e no coração de quem se sente chamado a abraçar uma vocação?

Quando um jovem procura responder ao chamado, o faz por ser fruto de sua experiência pessoal com o Cristo Crucificado-Morto-Ressuscitado ou foi fruto de um encontro virtual com um influenciador e suas técnicas de convencimento ou de sedução? Chama para si ou para a Igreja do Senhor? Mas, isso seria um problema? Não é, exatamente, nesse ambiente virtual que estão os nossos jovens? Então, é ali o lugar propício para “lançar as redes”. Essa é uma realidade que precisa ser acolhida, refletida, estudada, rezada, e da qual não podemos, em hipótese alguma, fugir desse confronto. Mas, um problema pode ser aquele de tornar a fonte do chamado, o Cristo, em algo secundário e inferior àquele que chama ou que influencia. Por isso, é preciso partir do Cristo! Dificilmente, baterá em nossas portas ou encontraremos jovens que não sejam frutos dessa realidade.

Somente quando conseguimos demonstrar, como faz a Gaudium et Spes, deque maneira a vocação pessoal, social e histórica de cada ser humano se encontra com o princípio da incarnação, somos capazes de construir uma teologia vocacional adequada e consequentemente uma pastoral vocacional.

Autor:
Frei Mário Sérgio dos Santos Souza, OFMCap
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