Vocação Religiosa: testemunhas do Reino!

Vocação Religiosa: testemunhas do Reino!

A beleza da vocação religiosa consiste em ser todo (a) de Deus, sem nenhuma reserva. É uma relação de pertencimento radical, vivido de forma consagrada, livre, alegre e testemunhal. Quando a Igreja insiste que a base da vida religiosa é a consagração, está dizendo que ela é sempre uma inciativa divina. Deus chama uma pessoa, reserva-a para si para que se dedique a Ele de maneira especial. Ao mesmo tempo, Ele confere a graça de tal modo que, na consagração, a resposta da pessoa humana se exprime através de um profundo e livre abandono de todo o seu ser.

A primeira exigência que esse chamado faz, encontra base na pergunta: você quer pertencer inteira e irrestritamente a Deus? Por isso, é uma vocação que, como todas as demais, exige um profundo discernimento. Não tem necessidade alguma de respostas precipitadas ou motivadas por qualquer outra situação, seja afetiva, profissional, familiar, social, econômica, que induza o vocacionado a responder, sem antes ter se permitido rezar e discernir com a maturidade própria da sua idade correspondente. A resposta se exprime através de um profundo e livre abandono em Deus.

Jesus é aquele a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo (Jo10,36). Nele é consagrado todo o novo Povo de Deus, mediante o batismo que é uma participação em sua própria vida. Este dom batismal é a consagração cristã fundamental, na qual residem as raízes de qualquer outra consagração. Jesus é o modelo por excelência do consagrado! Ele viveu a sua consagração como Filho de Deus: dependente do Pai, amando-o acima de tudo, em oblação total à sua vontade.

Estes aspectos da sua vida de Filho são partilhados por todos os cristãos. A alguns, porém, para o bem de todos, Deus dá o dom de um seguimento mais íntimo de Cristo na sua pobreza, castidade e obediência. Isso é feito por meio de uma profissão pública dos conselhos evangélicos mediados pela Igreja. Essa consagração é um dom de Deus. Ele a concede gratuitamente. Ao longo da história da Igreja, tantos homens e mulheres, de modo muito particular, a juventude, sentiram esse desejo no coração de serem totalmente dedicados às coisas do Senhor. É um lindo trato de amor: o consagrado cuida das coisas do Senhor e o Senhor cuida de cada um daqueles que Ele mesmo chamou.

O cristão, assim consagrado, procura viver agora o que será na vida futura e “manifesta melhor a todos os crentes os bens celestes já presentes neste mundo” (LG 44). Deste modo, os religiosos “testemunham de modo esplêndido e singular que o mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das Bem-aventuranças” (LG 31). A própria natureza da vocação religiosa comporta um testemunho público tanto de Cristo como da Igreja. Nesse sentido, o noviciado (etapa formativa) tem um caráter educativo sem precedentes: um certo distanciamento da vida familiar e profissional, para evidenciar o absoluto de Deus.

Alguns lembretes fundamentais para quem quer abraçar avocação religiosa ou para quem já a abraçou definitivamente: consciência de ser todo de Deus, sem reservas ou exceções; profundo e sincero desejo de viver em comunidade/fraternidade; espírito aberto à missionariedade; amar a vida de oração, de silêncio, de meditação; ascese como abandono na cruz do Senhor; não ter vergonha de testemunhar sua consagração para o mundo; por fim, um profundo e livre espírito de amor e obediência à Igreja.

Um dos belos brilhos da Vida Religiosa é o carisma que o Espírito Santo suscita no coração dos fundadores e fundadoras. Essa vocação é tanto bela quanto mais diversificada ela for! O carisma na vida religiosa é um dom que vai além das considerações jurídicas ou psicológicas. É uma realidade viva, alimentada pelo Espírito Santo, que guia os religiosos na sua vocação e no seu serviço à Igreja e ao mundo.

Assim, apresento-lhes o carisma que eu abracei, com toda a minha alma e de todo o meu coração: franciscano-capuchinho! A santidade de vida, o estilo austero e afável de apostolado e serviço, nasceram para os capuchinhos dentro de uma forte experiência fraterna na comunidade, local e provincial. A convivência religiosa quotidiana e, em particular, a frequente rotação ao serviço da autoridade – particularidade jurídica característica desde a fundação da Reforma Capuchinha (1529-1575) construíram em torno do frade em formação um clima de familiaridade espontânea, quase de sábio desencanto diante das frágeis ofertas da vida. A natureza exemplar de tantos santos confrades, tanto os reconhecidos pela Igreja como os conhecidos pelo estudo de quase cinco séculos de história local, ou pela experiência direta do presente, é a fonte contínua de água viva que sacia a alma capuchinha. Por fim, a austeridade e a popularidade do carisma, consolidadas pelo humor e pela autocrítica, constituem, por assim dizer, os “pontos cardeais” dentro dos quais se configura a “suavização” das arestas personalistas e de caráter dos indivíduos, temperada pelo simples sentir-se bem na fraternidade (fratticappuccini.it).Nossa Ordem Capuchinha, na força do nosso carisma, gerou, até o presente momento, 14 santos e uma dezena beatos e servos de Deus.

Por fim, olhemos para Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja! É nela, que a vida religiosa se compreende mais profundamente e encontra o sinal da esperança segura (LG 68). Ela, concebida imaculada porque foi escolhida entre o povo de Deus para levar o próprio Deus da maneira mais íntima e dá-lo ao mundo, foi totalmente consagrada pelo Espírito Santo que a envolveu com a sua sombra. Nossa Senhora Mãe das Divinas Vocações, rogai por nós!

Autor:
Frei Mário Sérgio dos Santos Souza, OFMCap
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