O tempo litúrgico inicia-se com o Advento, preparação para o Natal, a Natividade que há anos vem se secularizando e perdendo o verdadeiro sentido, a vinda do Salvador, Jesus Cristo, à humanidade pelo sim da Virgem Maria.
Na origem, a representação do presépio continha o Menino Jesus, o boi e o asno, pois em Isaias 1, 2-3 lemos: “Ouvi, céus, e tu, ó terra, escuta, é o Senhor quem fala: “Eu criei filhos e os eduquei; eles, porém, se revoltaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, meu povo não tem entendimento.” Com o passar do tempo veio a Mãe de Deus e os outros elementos que compõem o presépio. Na Encarnação, “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1).
Nas igrejas e nas casas ainda permanece o hábito de se fazer um presépio, cuja ideia é atribuída a São Francisco de Assis. O presépio, no entanto, já existia na época de Francisco, mas o seu presépio de Natal foi o ponto alto da ars concionandi e proporcionou a manifestação do nascimento de Jesus, seus sofrimentos e morte. Na representação de Francisco, Jesus Menino não era fantasia, romantismo, nem o anjo visitante dos hereges cátaros da época, que negavam a humanidade de Jesus. O Menino Deus também não viera fundar uma nova religião, nem seria o herói em um mundo perverso. É o Filho de Deus que se une ao tempo e à criação que é boa (Gn1)! Francisco, portanto, não é o inventor do presépio de Natal que já pertencia aos hábitos de festas nas catedrais romanas e outros lugares, mas trouxe o acontecimento do passado para o presente com pessoas comuns, ligando o nascimento de Jesus ao mistério litúrgico. No centro da liturgia está a anamnese, a memória da Encarnação, o encontro do Filho de Deus com a humanidade.
Na obra concisa e profunda de Frei Adriano, contemplamos três perspectivas, a histórica, a teológica e a artística acerca do Natal de São Francisco de Assis, a saber: o relato das narrativas do presépio de Greccio das Fontes Franciscanas; a reflexão teológica do Papa Francisco e a arte de Marko Ivan Rupnik, SJ., inspirada no ícone da Natividade e nos Santos Padres Siríacos e Gregos.
Rupnik entende que a tarefa do artista é a transfiguração do universo. Um artista sacro não imprime a marca da própria vontade na superfície das coisas, este é o seu primeiro preceito, mas revela a Palavra. Assim como uma parteira facilita o processo de parto, também o artista deve ajudar a revelar a beleza das coisas; sua tarefa é remover com os dedos sensíveis os véus que impedem o nascimento da Palavra. Sob seus dedos, o barro tomará a forma há muito esperada por si só, e as palavras irão se compor na consonância estabelecida pela natureza da linguagem. Somente essa abertura do espírito fará do artista o portador da revelação divina. A criatividade do artista advém da sua relação com o Espírito Santo.
A Encarnação é o grande Mistério de Deus revelado. As religiões têm seu Deus, mas só no cristianismo Deus se fez Homem, é essa a novidade essencial. Cristo, nascido sob o reinado do imperador Augusto e morto sob Pôncio Pilatos, viveu como homem uma vida colocada no espaço e que se desenvolveu no dinamismo do tempo. Mas, inseparavelmente unida à Palavra de Deus, toda a sua personalidade, com todas as suas ações, participou da eternidade de Deus. Sua carne humana é divina, divina e eterna!
Deus se fez homem, portanto, não acreditamos apenas em Deus, mas também em Deus-Homem. Deus e o homem como revelados em Jesus Cristo são parte de nossa crença. De fato, no Credo professamos: “Creio em um só Deus... em um só Senhor Jesus Cristo... por nós, homens e para a nossa salvação, desceu do céu e, pelo poder do Espírito Santo, encarnou-se no seio da Virgem Maria e se fez Homem.”
No presépio de Greccio, Francisco colocou o boi e o asno, convocou também alguns frades e o povo, mas a manjedoura estava vazia, sem o Menino-Deus, porque no Natal Ele deve nascer no coração de cada um. Este é o verdadeiro presépio!
Profa. Dra. Wilma Steagall de Tommaso
PUC-SP/LABÔ
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