A arte de viver franciscanamente

A arte de viver franciscanamente

Muito se fala sobre a identidade franciscana. Sabemos que, com o decorrer do tempo, a forma de viver do Pobre de Assis inspirou muitas pessoas a viverem de forma modesta, simples e despojada. O mais interessante é que esse jeito desprendido de viver fez surgir diversas faces de uma mesma espiritualidade, de um mesmo ideal de vida, resultando num carisma sempre vivo e renovado.

Francisco de Assis fez de sua própria vida uma obra de arte. Num tempo envolto em guerras, doenças e exclusões, surge um verdadeiro artista a pregar a Paz e o Bem, de forma honesta e sincera, pois falava com o coração. A sensibilidade artística de Francisco foi revelada na vida fraterna, no acolhimento aos leprosos, na criação do presépio, nos cânticos e orações de própria autoria, no diálogo com os mulçumanos e no amor a toda criatura.

Todavia, o Pobre de Assis acreditava que todos os irmãos poderiam, na liberdade do ser, criar e recriar, trabalhar com as próprias mãos, pregar o evangelho com a própria vida e escolher um itinerário do qual o poder e a dominação não façam parte. Só se é artista na liberdade. É necessário amar a vida para conduzi-la na sacralidade interior de nosso ser. Francisco nos abriu um caminho íntimo de encontro consigo para, a partir desse encontro, fazer misericórdia com toda a criação.

A vida franciscana nos conduz a um relacionamento intenso com a alteridade, tornando-nos pessoas em plenitude. Nesse ambiente de relacionamento cheio de sentimentos e afetos, muitos dos seguidores de São Francisco encontraram na arte um espaço para expressar toda a intencionalidade do viver. Dar sentido à vida no encontro com a arte é trazer toda a sensibilidade do ser para o relacionamento efetivo e afetivo com os irmãos e irmãs.

A arte de viver franciscanamente parte do desejo de lançar-se inteiramente em suas composições artísticas, que fogem de qualquer normatização e engessamento. Pois para ser franciscano é necessário um espírito livre, que fale de si na autenticidade, que promova a paz, que seja menor. Afinal, toda a arte de viver parte do reconhecimento do mundo como sendo o nosso claustro, livres para se encontrar com o Sagrado que habita na simplicidade do ser artístico.

Sendo assim, quem enxerga a vida com os olhos da arte faz do simples algo grandioso. Contempla a criação e se integra a ela na inteireza. O poeta, o dançarino, o ator, o pintor e o cantor sabem muito bem que a beleza da arte está na intensidade que é colocada naquilo que faz. A obra de arte é o próprio relacionamento humano que toca o mais íntimo do ser na busca do amor e, quando o encontra, mergulha na simplicidade e vive o grande sonho da fraternidade universal.

Autor:
Frei Douglas Leandro de Oliveira, OFMCap
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