A Graça de trabalhar em Frei Gabriel de Frazzanò
Amigo(a) leitor(a):
Paz e bem!
Continuamos a nossa jornada para conhecer melhor o Frei Gabriel de Frazzanò, Frade Capuchinho, que, aqui em Minas Gerais, viveu e trabalhou nas cidades de Carmo do Paranaíba, Belo Horizonte, Uberaba e em Frutal. Falamos de suas origens na Itália e de como veio para Minas Gerais como missionário. Hoje, veremos que logo que ele chegou em Frutal, ficou um tempo aprendendo o português e que foi enviado para Carmo do Paranaíba.
Na cidade de Carmo do Paranaíba, então Diocese de Uberaba e atualmente Diocese de Patos de Minas, os Capuchinhos haviam tomado posse na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo no dia 08 de fevereiro de 1936. Nos registros históricos, conta-se que houve:
“uma recepção calorosa aos frades que chegavam; todos se admiravam daqueles homens de aspecto austero, longas barbas, hábito marrom, ainda não sabendo falar o português correto”.
Esses frades pioneiros tiveram muito trabalho pela frente, reforma da Igreja Matriz, na casa paroquial e em algumas capelas. Iniciaram um grande trabalho de atendimento pastoral: iam às comunidades por estradas ruins, trabalhavam na evangelização diante da indiferença religiosa e, como se dizia, para “combater as seitas”.
Neste ambiente em que viviam os frades, chega Frei Gabriel de Frazzanò. Nos primeiros anos sua vida foi mais reclusa no trabalho do Convento como cozinheiro, hortelão e sacristão. Aos poucos, foi aprimorando a língua portuguesa, foi desempenhando o seu trabalho, foi conhecendo as pessoas. Devido ao crescimento urbano, achou-se por bem construir mais uma igreja na periferia da cidade. A igreja foi dedicada a Santo Antônio e erguida no bairro chamado Niterói. Neste empreendimento, viu-se o notável esforço de Frei Gabriel, que tudo fez para a edificação desse templo. Ele conclamava o povo, fazia festas, organizava novenas, pedia nas fazendas, ajudava nas barraquinhas, conseguia prendas para os leilões. Onde sua presença era solicitada, lá estava ele pronto para o trabalho. Sua presença contagiava a todos no sentido de se empenharem para que logo a Igreja estivesse pronta.
Era encarregado de buscar os recursos para o empreendimento, mas não se esquecia da parte espiritual, rezava o terço com o povo e animava-os para a participação na Eucaristia. Em 1942, foi inaugurada a Igreja e o pároco da época, Frei Bruno, registrou no livro de tombo que Frei Gabriel fez tudo com a licença do superior local e prestando contas da administração, dia a dia. Dom Alexandre Gonçalves do Amaral visitou a Paróquia e foi até a nova Igreja de Santo Antônio com Frei Gabriel. Ainda foi registrado seu empenho na construção do salão paroquial da referida Paróquia e a ajuda na construção de capelas nas comunidades rurais. Em 1945 comemorou-se os setenta e cinco anos de criação da paróquia de Nossa Senhora do Carmo. Aconteceram vários eventos para celebrar a data. Frei Gabriel de Frazzanò destacou-se na preparação de tudo e por isso seu trabalho foi reconhecido, se esforçava para que tudo saísse bem.
Frei Gabriel foi, então, encarregado da construção de uma nova Igreja, dedicada a São Francisco de Assis. O dia 15 de agosto de 1946 marca o início das obras. Nesse trabalho começou a aparecer o espírito de liderança do humilde irmão, que não media esforços para a execução de qualquer serviço. Ele se desdobrava e, em seu dinamismo admirável, era sempre ajudando por um grupo de pessoas de boa vontade e com o apoio e entusiasmo de todo o povo católico. No livro de tombo da Paróquia, Frei Inocêncio de Castelbuono deixou escrito em 05/10/1950 o seguinte:
“A Igreja de São Francisco está quase completada, graças ao incansável, inteligente e virtuoso religioso Frei Gabriel de Frazzanò, que não poupou esforço, fadigas, vigílias, viagens ofegantes para administrar, fiscalizar, dirigir os trabalhos inanes da construção da mesma Igreja. O nome de Frei Gabriel ficará gravado pelos séculos, numa glória interminável, nas basálticas lajes que ele concretizou com as gotas do seu suor. Mas a glória maior será aquela que Deus lhe está preparando no céu”.
Frei Gabriel, segundo os costumes da época, sendo um religioso irmão, tinha as suas obrigações de um homem consagrado. Tinha os serviços domésticos, cozinha, serviços de sacristão, cuidados com a horta. Sabe-se que cumpria todas as suas obrigações domésticas e encontrava tempo para a oração e para o trabalho de construção. Encontrava tempo para ajudar nas promoções que a paróquia realizava e estava sempre atento para ajudar os necessitados.
Frei Gabriel foi homenageado pelo poder legislativo e executivo da cidade de Carmo do Paranaíba em 1952, logo depois de sua transferência para Uberaba; foi denominada Avenida Frei Gabriel a ala direita da Avenida Costa Júnior em frente à Igreja de São Francisco de Assis construída com a ajuda dele. Esse foi o reconhecimento, pelas autoridades de Carmo do Paranaíba, de seus trabalhos na cidade e pelo testemunho de um homem de Deus, que na simplicidade, na abnegação e na rigidez da época, soube servir e buscar discernir a vontade de Deus nas coisas pequenas e no serviço simples do dia a dia. Por isso é que foi chamado de “o irmão de todos”. Em 1951, frei Gabriel foi transferido para Uberaba.
Frei Gabriel de Frazzanò sempre soube utilizar da simplicidade da vida para buscar recursos para as suas obras. Um desses recursos foi o teatro popular. Em um tempo em que quase não havia nada para o lazer e a descontração, Frei Gabriel, com a ajuda de um grupo de pessoas, começou a organizar o teatro popular, muito simples e com os recursos de que dispunham. Ele mesmo estava sempre agindo, organizando, contagiando a todos com o seu entusiasmo. Escolhia o local, limpava, enfeitava, organizava as cadeiras, fazia a ligação elétrica e se mantinha sempre alegre, mesmo diante dos problemas que apareciam. Se faltava a eletricidade, Frei Gabriel providenciava lampiões a gás e o ambiente ficava até mais sugestivo. As apresentações teatrais geralmente eram de espetáculos infanto-juvenis e sempre foram bem-sucedidas, com grande participação do povo. Outra das características de Frei Gabriel era a perseverança, uma “santa teimosia” que o levava sempre no caminho do bem. Quando determinava fazer algo, ia à frente, nenhum obstáculo o fazia desistir.
Naquele tempo a grande maioria da população ainda morava na zona rural, principalmente nas cidadezinhas do interior. As estradas eram precárias e, no tempo de chuva por causa da lama, as conduções ficavam encravadas. No tempo da seca era época de muita poeira. Nesses ambientes sempre se via Frei Gabriel pela zona rural em suas campanhas, quando arrecadava os donativos que precisava. Se servia de qualquer meio de transporte: caminhão que transportava leite, lombo de cavalo, charrete, jipe e também carros confortáveis. Andava a pé também, sozinho ou acompanhado, por todo lado de fazenda em fazenda. Para ele o importante era conseguir recursos para suas obras. Recebia de coração o que os corações lhe ofertavam.
Ficou muito conhecida e admirada a força física de Frei Gabriel de Frazzanò. Mesmo que com o passar do tempo, foram aparecendo alguns problemas originados pelo excesso de trabalho, pelas extravagâncias (tomar chuva, vento e sol ardente). Mas mesmo assim, sua disposição para o trabalho era a mesma. Todos o elogiavam e reverenciavam tanto pelo empenho quanto pelo esforço que fazia. Como ele usava o hábito capuchinho o tempo todo, para ter mais liberdade para trabalhar, amarrava-o na cintura com o cordão. Carregava sempre um grande lenço no ombro para enxugar o suor, arregaçava as mangas do hábito e mãos à obra! Sabe-se que era muito difícil acompanhá-lo por muito tempo no seu ritmo de trabalho. Trabalhava na enxada, na picareta, no serrote, no martelo. Transportava areia, pedra, tijolo e tudo mais que fosse necessário na edificação da obra que estivesse realizando. Seu modo de trabalhar edificava a todos, que passavam a seguir o seu exemplo. Era sempre o primeiro a começar os trabalhos e o último a parar. Era um homem que sabia reconhecer o esforço e dedicação das pessoas, sabia agradecer e recompensar a cada um pelo empenho e doação do serviço.
Frei Gabriel sempre foi um homem pobre, seu desprendimento era conhecido e visível, seu hábito era rústico, remendado e de tecido grosseiro. Não se preocupava consigo mesmo.
Caro amigo(a) leitor(a), iniciamos os trabalhos que Frei Gabriel começou a desempenhar, sobretudo no trabalho braçal. Com seu ânimo, coragem e valentia construiu várias Igrejas e animou a vida do povo. Em breve, continuaremos nossa caminhada para conhecer melhor o desenrolar da vida de Frei Gabriel de Frazzanò: “o irmão de todos”. Como homem de Deus, sempre se mostrou um homem capaz de ofertar sua vida a serviço da Igreja e dos desvalidos. Até nosso próximo encontro, paz e bem.
Paz e bem!
Foto principal: Frei Gabriel entre os construtores da Igreja de São Francisco de Assis em Carmo do Paranaíba - MG.
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Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap
Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap
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