A Pobreza e a Austeridade na vida de Frei Gabriel de Frazzanò

A Pobreza e a Austeridade na vida de Frei Gabriel de Frazzanò

Caro leitor (a):

Paz e bem!

No nosso último encontro vimos um pouco da história de Frei Gabriel de Frazzanò em Carmo do Paranaíba e conhecemos um pouco do estilo de vida desse homem de Deus. Hoje, vamos continuar a conhecê-lo através de sua história.

Segundo a identidade e as tradições da Reforma Capuchinha, os frades levavam uma vida de grande austeridade. Deviam ser pobres e simples e isso transparecia no modo de vestir, na alimentação e no modo como andavam pelo mundo. No tempo de Frei Gabriel de Frazzanò, essa austeridade era amplamente conhecida graças ao estilo de vida dos frades. Outro aspecto notório na vida de Frei Gabriel é o espírito de sacrifício, seja nas suas atitudes simples, ingênuas e corajosas ou nas suas atividades práticas, nas viagens, na alimentação e no vestuário. Na doença ele dava a lição do sacrifício e da penitência, comum ao espírito da Ordem Franciscana Capuchinha. Este mesmo espírito tem sua origem em São Francisco de Assis, que trilhou um caminho penitencial na busca do seguimento do Cristo pobre e crucificado. Em São Francisco, tal caminho o levou a receber a graça da impressão dos estigmas de Cristo em seu corpo. Com Frei Gabriel, a vivência da sua enfermidade o fez associar os seus sofrimentos aos de Cristo, conforme diz São Paulo na Carta aos Colossenses 1, 24.

Assim narra o testemunho de uma pessoa que conviveu com Frei Gabriel acerca do espírito de penitência:

“Ah! Frei Gabriel! Como ele se atirava ao trabalho braçal e ao sacrifício espiritual! Parece que ele preparava qualquer futura ação com o seu sacrifício pessoal escondido. Ele tinha antes que sofrer para que sua obra fosse certa e boa, a seus olhos e aos de Deus. Ele acreditava na expressão: ‘não há benefício sem sacrifício’”.

Outra pessoa ainda conta que Frei Gabriel era muitas vezes visto deitado ou sentado nas pedras, em pleno descampado, sob soalheira terrível. Se alguém perguntasse, respondia simplesmente que estava fazendo sacrifício. Dormia no chão, ficava sem comer, tudo isso para não incomodar as pessoas e para fazer penitência. A vezes até passava frio no inverno sem um agasalho. Conta-se também que sua cela (o quarto do frade) era muito simples e que não tinha conforto nenhum, sendo apenas um local do descanso depois de um dia de trabalho. Sua vida, cremos que assim podemos dizer, foi uma vida de sacrifício e de intensa vida de penitência. Era, portanto, a vida de um homem que buscava discernir os caminhos de Deus para melhor servir a todos.

Vejamos outro caso: Frei Gabriel pediu para um fazendeiro a madeira para a obra do madeiramento da Igreja São Francisco de Assis, em Carmo do Paranaíba. O fazendeiro, assim, lhe deu a madeira. O frade dirigiu-se à fazenda sem demora e começou, ele mesmo, a derrubar enormes árvores. A notícia, com um certo exagero, chegou aos ouvidos do fazendeiro que achou que Frei Gabriel estava exorbitando na retirada do material. Foi, então, verificar, pessoalmente, e conversar com o frade. Porém, ficou espantado e admirado ao ver Frei Gabriel trabalhando sozinho e não resistiu em pedir aos seus funcionários que o ajudassem. Isto porque ficou abismado ao ver Frei Gabriel trabalhando daquela forma e com tal força. Com o machado derrubava as árvores, cortava os galhos e depois arrastava os troncos com cordas que ele prendia em seus ombros, protegidos por pedaços de couro. Um trabalho primitivo, mas heroico! Assim, conseguiu arrastar diversos troncos pesados até à estrada, sob sol forte, além dos mosquitos que não lhe davam sossego. A vida de Frei Gabriel foi totalmente uma vida de serviço.

Nos casos em que ele conhecia algum fazendeiro e sua situação econômica, ele mesmo escolhia o porco, o bezerro, o frango, o feijão ou o arroz e sempre a pessoa acabava o dando. Era impossível negar alguma coisa ao Frei Gabriel, pois ele nunca pedia para si mesmo, mas sempre para suas obras; era sempre uma Igreja em construção, os pobres que precisavam, o Seminário Seráfico dos Capuchinhos que precisava de ajuda, que nesta época estava em Carmo do Paranaíba etc. Ele tinha um jeito especial para convencer as pessoas que não estivessem dispostas a ajudá-lo. O convencimento dava-se pelo seu testemunho de trabalho, de força de vontade e pela sua vida austera. O que importava não era ele, mas suas obras, que no final eram de todos, pois, na realidade, eram da comunidade.

Frei Gabriel era próximo a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, Bispo de Uberaba, e de sua mãe Dona Lilia. Sempre que os visitava levava algum agrado. Eram ofertas singelas, mas que as fazia de coração. O gesto agradava mais pelo aspecto afetivo e humano do que pelo valor material do presente. Eram coisas que Frei Gabriel ganhava nas suas andanças pelas fazendas e casas: um frango, um queijo ou requeijão, alguma planta ornamental ou alguma fruta. Assim, o presente marcava sua visita e era sinal de sua amizade e profunda reverência.

Frei Gabriel nos primeiros anos da missão em Minas Gerais

Atentemo-nos a mais esse caso que mostra a força física de Frei Gabriel e também a sua disposição para ajudar as pessoas: muitas vezes nas suas andanças Frei Gabriel foi visto ajudando em situações que eram necessárias. As estradas, naquela época, eram no tempo de chuva muito lamacentas. Havia muitos mata-burros e muitas vezes quebrados ou malconservados. Se Frei Gabriel visse alguém parado ele logo parava também e ia se informar sobre o que estava acontecendo. Estava sempre pronto para ajudar! Se dependesse de força física ou qualquer outro expediente dentro de sua capacidade, o problema já estava resolvido. Certa vez, encontrou um caminhão parado na estrada, três homens suavam para tirar o caminhão do atoleiro e continuar a viagem. Frei Gabriel chegou e colocou mãos à obra. Arregaçou as mangas do seu hábito surrado e sozinho realizou a tarefa que três não davam conta, empurrando o caminhão. Todos ficavam boquiabertos com tanta força. Limpando as mãos no hábito capuchinho e, desdobrando as mangas, prosseguia seu caminho para fazer o bem. Estava satisfeito, pois, fizera o bem a alguém. Tinha sido alguém para alguém e isso era motivo de sua felicidade. Isto mesmo, sua felicidade era fazer o bem! O bem que fazia na humildade e na pequenez, sem alarde, revelava sua vida profunda vivência da espiritualidade de frade menor.

Por fim, Frei Gabriel de Frazzanò tinha o costume de andar de carona quando devia fazer alguma viagem. Ele não tinha carro e nem fazia questão de ter. Então recorria aos amigos ou mesmo aos desconhecidos. Dessa forma, ele estava agindo de acordo com o entendimento da pobreza franciscana e seu desprendimento das coisas materiais, como era o entendimento de sua época. Ninguém negava carona para ele, mesmo que precisasse algumas vezes desviar da rota e do destino final de viagem. No tempo em que esteve no Carmo do Paranaíba trabalhando na construção da Igreja Santo Antônio e depois na construção da Igreja São Francisco de Assis, sempre se via o frade pegando carona para comprar material de construção em Catiara. Qualquer condução que conseguisse estava boa. A carona ainda servia para que durante a viagem desenvolvesse seu apostolado, sua conversa animada com o motorista servia também para evangelizar. Mas, o que falava mesmo era sua simplicidade e sua austeridade. Dessa maneira, ele ainda seguia um mandato de São Francisco de Assis que dizia que a vida do frade deveria ser sua primeira maneira de pregar. Muitos dos que davam carona ao Frei Gabriel, saudosos, contam sobre essas experiências.

Já relatamos que Frei Gabriel era acelerado no ritmo de trabalho e estava sempre com pressa, estava sempre com alguma tarefa a ser empreendida e chamava os seus colaboradores com gestos e palavras para acelerarem o serviço e realizá-lo logo. A pressa, na verdade, era pensando no benefício que a obra traria às pessoas. Por isso, ele estava sempre convocando, chamando, incentivando e com seu entusiasmo animando a todos no serviço.

Dos anos de 1948 a 1951 o seminário menor, conhecido como Seminário Seráfico, da então Custódia dos Capuchinhos em Minas Gerais funcionou na cidade de Carmo do Paranaíba.

Os frades moravam num prédio anexo ao Seminário, entre eles Frei Gabriel que sempre teve um bom relacionamento com os adolescentes que desejavam estudar e se tornarem frades. Ele era muito querido pelos estudantes, pois arranjava bons passeios nas fazendas, além de participar, brincar e se integrava com jovens. Além disso, sempre trabalhava para a manutenção do Seminário Seráfico e, quando conseguia frutas nas fazendas, as levava para os jovens.

Pois bem meus irmãos e irmãs que nos acompanham nesse itinerário sobre a vida de Frei Gabriel, nesse encontro percebemos um outro aspecto que marca a vida do “Irmão de todos”: a sua austeridade capuchinha. Tal característica marcou todos os outros aspectos da sua vida e, por meio dela, ele conseguiu aproximar-se de todos. Ouvimos, recentemente, um relato sobre o Frei Gabriel que muito nos chamou a atenção e que exemplifica muito bem esse elemento da vida e da espiritualidade; assim diz um senhor que o conheceu: “Ele era pobre e se misturava com os pobres”. A pobreza e a austeridade franciscano-capuchinhas são elementos basilares para compreendermos a vida e o testemunho de santidade desse nosso irmão. 

Contudo, por hora ficamos por aqui e com tempo para assimilar essas notas características e marcantes na vida de Frei Gabriel de Frazzanò.

Em breve continuaremos.

Paz e bem!

Foto Principal: Frei Gabriel acompanhado de ajudantes nas durante suas 'andanças'.
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Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap

Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap


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Obs.: Pedimos às pessoas de Uberaba que se tiverem alguma lembrança, de algum fato, alguma história ou alguma foto do Servo de Deus Frei Gabriel, que entre em contato conosco pelo e-mail: freigabriel@capuchinhosmg.org.br.

Autor:
Vice Postulação da causa do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò
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