As labutas de Frei Gabriel de Frazannò em Uberaba
Caro leitor e leitora,
Paz e bem!
Estamos conhecendo a vida do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò: “o Irmão de todos”. Como já sabemos, ele foi um missionário Capuchinho que chegou em Minas Gerais em 1936. Sua vida foi marcada por muitos trabalhos, entre eles o trabalho braçal em várias construções e o serviço aos frades, pobres, doentes, idosos e crianças carentes. Sabemos que Frei Gabriel viveu e trabalhou por algum tempo na cidade de Belo Horizonte, mas não temos informações relativas à exatidão da sua estadia na capital mineira. Uma das poucas menções que temos da sua permanência em Belo Horizonte, apenas uma anotação encontrada numa foto de 1952, se refere à sua estadia na capital e, por conseguinte, seu trabalho, de novo braçal, como expressão de sua participação na construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e do Convento dos Capuchinhos anexo à Igreja. Quando se diz que Frei Gabriel deixou sua marca, certamente podemos entender que ele trabalhou e se dedicou muito na edificação daquela Igreja e do Convento dos frades.
Ao longo da história desse Servo de Deus, é perceptível a sua prontidão e constante atitude de disponibilidade para com os pedidos dos seus Superiores. Podemos citar, por exemplo, sua saída e transferência da Fraternidade dos frades da cidade de Carmo do Paranaíba, região do Alto Paranaíba, na época pertencente à Diocese de Uberaba. O Superior regular da Missão deu-lhe um prazo de doze horas para arrumar suas coisas e deixar o Convento e a cidade, pois sua presença era muito requerida numa outra Fraternidade e em outras missões.
Frei Gabriel não murmurou, não houve sequer a menor queixa ou contradição. Saiu às pressas procurando isto e aquilo, deixando seus últimos recados e fazendo seus últimos encaminhamentos dos trabalhos iniciados. Arrumou suas poucas coisas e saiu, como um bom filho de São Francisco e Santa Clara, sem olhar para trás. Seu próximo destino era a cidade de Belo Horizonte. Depois de um tempo, em 1954 Frei Gabriel é transferido para Uberaba.
Nessa importante cidade do Triângulo Mineiro, os Frades Capuchinhos já eram conhecidos e muito estimados graças ao zelo e intrépido testemunho do Reverendo Padre Mestre e Missionário Apostólico Frei Eugênio Maria de Gênova (1812-1871) e seus companheiros de Ordem. Já no século XIX, esse missionário ambulante (como eram conhecidos os frades que recebiam suas missões e iam caminhando até o destino), chegando no Rio de Janeiro e destinado à catequese indígena em Cuiabá, marcou a vida e a cidade de Uberaba pelos seus feitos e suas obras, inclusive de construções. A memória e a reverência a esse confrade de Frei Gabriel podem ser percebidas ainda hoje na cidade.
A pedido de Dom Alexandre Gonçalves Amaral, então Bispo Diocesano, os Capuchinhos se dirigiram em 1946 para a Cidade de Uberaba. Foi-lhes confiada a Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, na praça do mesmo nome. Quem visita hoje o Bairro do Fabrício, logo ali, na praça Santa Teresinha, verá uma igreja majestosa em tamanho e beleza. Antes, porém, da edificação desse templo que hoje podemos contemplar e admirar, houve na praça uma pequena, mas muito graciosa, Capela filial da Catedral, com o mesmo nome da Igreja de hoje, dedicada à santa francesa das rosas, construída por Egisto del Papa.
Uma curiosidade: o nome Fabrício, dado ao bairro onde se localiza a Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, deveu-se ao senhor Fabrício José de Moura, possuidor de uma fábrica de foices e machados, no Largo de Santa Bárbara.
Dom Antônio de Almeida Lustosa, Bispo de Uberaba, benzeu a primeira pedra a 17 de dezembro de 1927 e solenemente inaugurou a pequena igreja a 31 de março de 1929. Tal como a “Pequena Grande” Teresinha, a capela da Catedral precisou ser ampliada para dar lugar aos fiéis e devotos. A pequena e modesta capela tornou-se a grande e majestosa Igreja.
Sobre a construção da então enorme igreja, algumas curiosidades fomentam sua história. Seja pelo desafio de Frei Odorico Virga na frente da Santa, seja pela construção externa, conservando a igrejinha em seu interior à medida que iam sendo levantadas as paredes da nova Casa de Deus, também Frei Gabriel trabalhou nessa obra. Contudo, Frei Gabriel chegou a Uberaba antes das obras da nova igreja. Ainda na modesta capela, ele se encarregava de abrir e fechar as portas, cuidar da sacristia, ajudar na Santa Missa, rezar o Terço com o povo, fazer a limpeza e, ademais, dar as ordens necessárias aos desavisados para o decoro em ambiente religioso. Pela tardinha, era visto sentado nos bancos da praça ajardinada, conversando alegremente com os inúmeros amigos e conhecidos.
A Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus foi criada por Dom Alexandre Gonçalves Amaral, em 20 de agosto de 1949, e entregue aos Frades Capuchinhos, na pessoa de Frei David de Bronte, primeiro vigário, em 4 de setembro do mesmo ano. A missa de posse de Frei David foi na pequena igreja, às 7h30 daquela manhã. Depois, no salão do Tiro de Guerra, na Rua Padre Zeferino, ali perto, realizou-se a sessão solene comemorando a fundação da Paróquia e a tomada de posse do primeiro vigário. Autoridades eclesiásticas, civis e militares e grande número de fiéis compareceram ao ato. Falaram durante a sessão diversos oradores e houve alguns números artísticos, como cantos e declamações. Frei David agradeceu o apoio dos paroquianos e prometeu trabalhar para o bem de todos.
Frei Gabriel mais tarde foi cooperador de Frei David e de outros vigários como irmão leigo, mas sempre para a edificação de todos os fiéis. No dia 1º de novembro de 1950, Ano Santo, tomou posse o segundo vigário: Frei Odorico Virga, um dos primeiros missionários vindo da Itália em 1936. Além de ajudar Frei Davi e, depois, Frei Odorico, uma obra notável de Frei Gabriel em Uberaba foi a Igreja de São Judas Tadeu e São José, no território da então Paróquia Santa Teresinha dos Frades Capuchinhos.
Em 1952, Frei Odorico lançou a feliz ideia de construir a igreja de São Judas Tadeu, para substituir uma capela de tábuas ali existente, numa praça. O templo foi inaugurado oficialmente em novembro de 1954, sendo vigário Frei Conrado de Troína, e com a presença de Dom Alexandre.
Frei Gabriel, sob obediência do Superior, entregou-se de corpo e alma à realização da obra. Recolhia verbas e ofertas populares, administrava a construção e fiscalizava diariamente o trabalho dos operários. E não só! Ele, inclusive, trabalhava braçalmente carregando, observando e suando naquele ritmo de labor tão próprio da sua fortaleza física e do seu ânimo admirável. Aos poucos seu hábito capuchinho se cobria de pó e vestígios da construção, mas isso nunca se tornou empecilho para o trabalho.
As suas campanhas populares em prol da edificação do templo ficaram guardadas na memória do povo. E todos o ajudavam. Por exemplo, uma destas campanhas encabeçadas por Frei Gabriel foi a campanha do ovo. Pedia ovos às famílias, de casa em casa, às crianças na catequese, nas escolas. E depois ia buscá-los atenciosamente para vendê-los no mercado. O dinheiro era aplicado inteiramente na obra da igreja. Tanto assim que, às custas das campanhas populares (como a do ovo), a construção foi efetuada em tempo recorde. A obra foi executada também graças à correspondência do povo do Bairro e de toda a cidade, pois os devotos de São Judas Tadeu estavam em todos os outros bairros, e começaram a procurar o templo para suas orações e pedidos, como ocorre até hoje.
Terminada a construção, Frei Gabriel conclamava o povo para a oração. Rezava com os amigos, especialmente nas preparações das festas, das missões etc. E ficava ademais encarregado da parte externa das festividades, a saber, orientar as barraquinhas, os leilões, o serviço de alto-falante etc. Ele sempre foi muito atencioso e carinhoso para com todas as pessoas, e de maneira especial com os seus Superiores, sempre lhes prestava obediência e permanecia à disposição para qualquer serviço.
Nas missões pregadas na Paróquia Santa Terezinha pelos Padres dos Sagrados Corações, Frei Gabriel teve papel atuante no desenrolar dos acontecimentos religiosos. Preparava as famílias para receberem as entronizações dos Sagrados Corações (foram feitas 899 entronizações) e preparava os casamentos de pessoas já vivendo juntas ou casadas apenas no civil (no total foram 72 matrimônios).
Também no primeiro Centenário da cidade, Frei Gabriel foi o braço-direito do vigário na organização da Paróquia quando foram pregadas outras missões, estas pelos Missionários Redentoristas.
Para Frei Gabriel, não importava o tamanho do desafio ou do trabalho, a graça de Deus sempre viria em socorro e a Divina Providência não deixaria nada faltar para aqueles que a ela recorressem com coração sincero. Todo trabalho missionário era percebido e encarado como ação da construção do Reino de Deus no meio do povo, e com o povo, vivido com muita alegria e disposição. Rezar, celebrar a vida e ajudar sempre faziam parte das ações do humilde, mas corajoso, Frei Gabriel de Frazzanò, de fato, um ‘Irmão de todos”.
Assim era a vida de Frei Gabriel de Frazzanò em Uberaba: uma vida de serviço constante e de dedicação a Deus, de forma concreta no serviço aos irmãos. Seja convocando-os para as orações, seja despertando-os para o cuidado para com os pobres e os doentes, mas sempre na ação e no compromisso com a missão de fazer o bem, o “Frade do Povo” dava o seu testemunho e colaborava no advento do Reino de Deus. Sem jamais deixar seu Santo Terço, os dedos calejados do trabalho como que dançavam entre as contas das Ave-Marias, intercedendo por cada um que lhe pedia suas preces.
É bom chegar a Uberaba e recordar esse tempo fatigante de trabalhos árduos, mas fecundados pela força do Divino Espírito Santo. É estimável contemplar hoje a Matriz de Santa Teresinha, elevar uma prece de gratidão pelos frades e benfeitores, rezar na Igreja de São Judas Tadeu e, com o povo, suspender aos olhos aos céus na certeza de um bom intercessor.
Irmãos e irmãs, em breve continuaremos nossa aventura pela vida do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò e, enquanto esperamos a próxima edição, que cada um e cada uma reze pela sua Causa de Beatificação.
Fraternalmente, Paz e bem!
Foto principal: Frei Gabriel e Frei Odorico juntos com um senhor na porta do antigo Convento em Uberaba.
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Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap
Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap
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Obs.: Pedimos às pessoas de Uberaba que se tiverem alguma lembrança, de algum fato, alguma história ou alguma foto do Servo de Deus Frei Gabriel, que entre em contato conosco pelo e-mail: freigabriel@capuchinhosmg.org.br.