Cristo é a nossa Paz?
Cristo realmente é a nossa paz? Obviamente nossa resposta para tal pergunta deveria ser sim! Sim, Cristo é a nossa paz! Mediante tal tema proposto pela Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 percebemos polarizações dentro da Igreja em torno de querelas, que apenas reafirmam a incapacidade de alguns “cristãos” para o diálogo e a fraternidade, características fundantes da identidade franciscana.
Minha intenção é apresentar uma análise do tema e lema da CF 2021 a partir de uma ótica franciscana. Os temas propostos como paz, unidade, fraternidade, diálogo e compromisso de amor já são discutidos desde a experiência do Pobrezinho de Assis a mais de 800 anos.
No período medieval, havia uma tentativa de instaurar a Paz em nome de Cristo, “conquistar tudo para Cristo”, todavia essa paz tentava ser conquistada pela via das armas, guerras e violências. A história fala de, aproximadamente, nove Cruzadas oficiais regadas a muito sangue, armas e violência. Com a melhor das boas intenções de defender os lugares cristãos e instaurar a paz, tal situação se arrastou do Séc. XI ao Séc. XIII.
No meio deste cenário aparece o Pobrezinho de Assis, com uma proposta totalmente contrária à apresentada até o momento. Enquanto os papas e os imperadores cristãos avançavam com espadas e escudos contra os povos mulçumanos, Francisco de Assis se apresenta com uma arma até então inimaginável: a arma do diálogo. O encontro de Francisco de Assis e o Sultão Malek al-Kamel foi um dos gestos mais extraordinários da história do diálogo inter-religioso (Crônicas de Jordão de Jano, 10).
“Do que era dividido fez uma unidade” se faz necessário informar que foi a partir do diálogo de Francisco com os mulçumanos que os cristãos voltaram a poder peregrinar nos lugares santos (Jerusalém) e não a partir das armas e violências promovidas. As armas e a intolerância religiosa de ambas as partes só geraram mortes e destruição. O diálogo desenvolvido pelos franciscanos foi facilitador da permanência e sobrevivência dos cristãos na Terra Santa.
Francisco de Assis nos ensina que a Paz é conquistada através da prática do bem. Quanto mais o ser humano se abre para o bem, com práticas de diálogo, respeito e tolerância, mais próximos da Paz de Cristo ficamos. Em sua Regra, São Francisco ensina seus seguidores a serem bondosos, humildes, a amarem seus inimigos, adverte que as relações precisam ser construídas a partir da mansidão, a conversarem com as pessoas com respeito e não com arrogância.
Portanto, negar os valores e a mensagem da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 é retornar às barbáries promovidas no período das cruzadas. O Santo Padre nos convida na Fratelli Tutti:
“escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor a Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita” (FT 1).
Desejo que o espírito de conversão da quaresma, nos torne cada vez mais franciscanos, promotores da Paz e do Bem, do diálogo e do respeito, cada vez mais distantes da violência e próximos de Cristo nossa Paz. Que a luz do Ressuscitado na Páscoa ilumine nossos corações para a verdade de Cristo.