Maria, mãe solicita!

Maria, mãe solicita!

São José desponta no cenário daIgreja, depois da Virgem Maria, como o santo que mais se aproximou de JesusCristo, tanto no sentido físico, já que conviveu com ele por no mínimo trintaanos, como seu pai, quanto no sentido das virtudes. De fato, todo santo, só ésanto porque soube imitar Jesus, e José, sem dúvida, imitou a sua obediência.Mas, no caso de Maria e José, podemos afirmar que eles não só imitaram Jesus,mas que Jesus os imitou, uma vez que o Filho faz aquilo que vê o Pai fazer,conforme o próprio Jesus fala no evangelho. (Jo 5,19)

Como era o costume dos judeus, ocompromisso do noivado já era o próprio matrimônio, porém em uma etapa em queos cônjuges ainda não coabitavam. Sendo Jesus concebido neste contexto, ele élegitimamente o Filho de José, o esposo de Maria. Deus confirma, portanto, apaternidade de José sobre Jesus, dando-lhe a graça de colocar-lhe o nome, assimcomo Adão nomeou a criação, conforme as palavras do anjo: “Não temas receber Maria como tua esposa, porque o que está sendo geradoé obra do Espírito Santo. Ela dará luz a um filho, e tu lhe darás o nome deJesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mt 1,21)

O Papa Francisco diz que “Na escola de São José, Jesus aprende a fazera vontade do Pai (Francisco, PatrisCordi)”. Com efeito, São José é o exemplo de homem que soube dignificar suavida através do trabalho e deixou este exemplo para o próprio Filho de Deus. Porisso, ele é o ícone de tantos trabalhadores(as) em diversas áreas. Atualmente,de modo particular, na área da saúde, na qual estes doam suas vidas paracombater o corona vírus. Então, se Jesus imitou José na obediência e nosilêncio, qual virtude o Filho de Deus imitou de sua Mãe? A solicitude. Esta,que caminha lado a lado com a disponibilidade, traduz-se na autêntica vontadede servir e fazer o melhor para o próximo, típico de uma alma generosa ebondosa.  

Não poderíamos deixar de falar daEsposa de São José e Mãe de Jesus, Maria, que também é nossa mãe solícita. Foicom essa solicitude que Maria desceu dos céus para fazer a humanidade voltar oolhar para lá. O Milagre do sol, operado em Fátima, é na verdade o amor deMaria revelando aos homens que Deus quer sempre derramar sobre nós, graça emisericórdia, apesar de nós esperarmos Dele castigo e punição. Mas, Maria tambémnos convida à conversão, sem esta, o caminho de retorno a Deus não existe. Istoé exatamente como Jesus nos fala no Evangelho. Ele, que é o Verbo encarnado,enfatiza o verbo “permanecer”, revelando que apesar de ter descido dos céus, efeito-se homem, não perdeu a intimidade com o Pai, ou seja, permanece no seuamor. Essa permanência é a intimidade eterna, que sempre existiu na Trindade, eque adentra o tempo sem perder a essência divina.

O mais impressionante é que Jesusconvida os homens a fazer parte desta intimidade com o Pai, dizendo: permaneceino meu amor. Com isso, ele diz que o ser humano já participa desta intimidadetrina, pois criados pelo amor e para o amor, permanecer em Deus consiste em umavocação do próprio ser humano. Por isso, Nossa Senhora em Fátima diz que adevoção a seu Imaculado Coração tem uma força salvífica, porque está naintimidade com o amor da Trindade, e as almas que abraçam este Coração, serãoflores, postas por Maria, diante do trono de Deus.

A solicitude de Maria, nestecontexto, está em fazer a humanidade voltar a crer em Deus, uma vez que naqueletempo viviam-se os horrores da Primeira Guerra Mundial e o racionalismo haviase encarregado de explicar o mundo pela via do ateísmo, isto é, sem Deus e sema fé. Por esse motivo, Nossa Senhora enfatizou muito a virtude da fé eprofetizou que, esta, em Portugal estaria sempre viva. Mãe solícita, ele fez demodo global, o mesmo que fizera outrora, nas Bodas de Caná e no Calvário, intercedendoa favor dos homens. Em Caná, faltava vinho para festa, no Calvário, faltava fépara reconhecer o milagre da Redenção.

Na Cova da Iria, refletia-se o Mundode 1917, sem esperança e arrasado pela guerra. Muitos acorreram para lá, uns embusca de satisfazer desejos pessoais, outros para tentar comprovar que ospastorinhos eram farsantes, todavia haviam muitos que estavam ali por fé.Maria, com os olhos da alma, via tudo isso, e com o coração de uma Mãe solícitaacolhia a todos.

Semelhantemente como em Caná, nomomento mais sublime da festa, em que ela intercedendo, Jesus operou o milagretornando possível o que parecia impossível, da mesma forma, em Fátima, elaintercede e Jesus realiza o Milagre do Sol. Algo considerado impossívelacontece, o sol baila no céu e quando as pessoas achavam que seriam consumidaspelas chamas da ira de Deus, o astro rei volta ao normal enxugando suas roupasencharcadas, analogamente ao Calvário, quando Jesus fez brilhar em meio àstrevas, a luz de seu poder salvador, que enxugou a água suja e a lama dospecados da humanidade e nos vestiu com as vestes brancas da reconciliação comPai. Ele, o Cordeiro de Deus, tirou os pecados do mundo, afastou a Ira doSenhor e deixou-nos como legado de seu amor, a sua própria Mãe.

Agora, tendo em comum com suadivindade, o Pai celeste e com sua humanidade, a mãe imaculada e solícita, oshomens se tornam mais íntimos de Jesus, que inaugura o novo tempo, no qual aintimidade com o Pai se faz cada vez maior no testemunho cotidiano de fé e nosmistérios celebrados nos sacramentos da Igreja, particularmente na Eucaristia.

A Igreja éamada e observada por Deus em seu zelo paterno e identicamente por São José,que a tem como filha, sendo dela vigilante Patrono. Essa, sendo universal,vestida do Sol da Justiça e filha de Maria, a Mãe solícita, é o ‘lugar’ dapermanência da humanidade com Deus pelo amor e pela fé, conforme Jesus revelaque é a vontade de Deus. E Maria, em seu amor materno, prefigura a antecipaçãodo escatón, ou seja, do que está por vir. Pois nela, Deus já realizoutudo o que tem reservado para nós. Portanto, olhando esta mãe, temos a certezaque estarão abertas para nós as portas do Paraíso.

Autor:
Frei João Reis Filho, OFMCap
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