Os capuchinhos e a devoção mariana
O Seráfico Pai São Francisco nutria um especial amor e veneração pela bem aventurada Virgem Maria, de modo que “se abrasava de devoção para com a Mãe de toda bondade” (I Cel 21, 3). Seu confiante e filial afeto pela Imaculada Mãe de Deus é expresso sob vários prismas que vão desde seu carinho pela igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos (Porciúncula) até ao fato de tê-la constituído como advogada da Ordem, confiando-lhe à sua proteção os filhos que haveria de deixar para serem aquecidos e protegidos (cf. II Cel 198, 3).
O Venerável Patriarca de Assis ainda honrou a Bendita Mãe de Deus com duas orações a ela dedicadas: a saudação à bem aventurada Virgem Maria e a antífona “Santa Virgem Maria”, ambas plasmadas por uma profunda, terna e doce confiança em Nossa Senhora, enaltecendo-lhe com louvores e suplicando-lhe a constância de seu maternal amparo para consigo, para com todos os confrades e, certamente, para com todos os que se confiam ao seu patrocínio celestial.
Várias são as manifestações de devoção à Virgem Santíssima, presentes na família franciscana, desde a composição do Ofício da Imaculada Conceição, pelo Frei Bernardino de Bustis no século XV, até a coroa franciscana das sete alegrias de Nossa Senhora, devoção esta que remonta a 1442, quando um noviço franciscano teve a aparição da Virgem Imaculada, pedindo-lhe “recitar a cada dia sete dezenas de Ave Marias intercaladas com a meditação dos sete mistérios gozosos que ela viveu em sua existência” (cf. Santos Franciscanos para cada dia. Ed. Porziuncola). A referida devoção foi bastante difundida por São Bernardino de Sena.
No tocante a devoção mariana presente entre nós Capuchinhos, nossas Constituições são claras acerca do amor que devemos nutrir para com Nossa Senhora: “Veneremos, pois, com particular devoção, especialmente com o culto litúrgico, o ngelus e o rosário, Maria Mãe de Deus e Virgem concebida sem pecado, filha e serva do Pai, mãe do Filho e esposa do Espírito Santo, feita Igreja – segundo a expressão de São Francisco – e promovamos sua devoção entre o povo. Ela, de fato, é nossa mãe e advogada, padroeira da Ordem, participante da pobreza e da paixão de seu Filho e – como testemunha a experiência – caminho para alcançar o espírito de Cristo pobre e crucificado” (Const. OFMCap. 53, 6).
Em múltiplos tempos e lugares, a Ordem Capuchinha externou de vários modos o seu filial afeto para com Maria Santíssima: “Os capuchinhos promoveram, no século XVIII, com grande entusiasmo, a devoção a Maria sob a invocação de Divina Pastora, que teve por apóstolo Isidoro de Sevilha (+ 1750) e mais tarde o beato Diogo de Cádiz. Na Alemanha, os pregadores capuchinhos promoveram, no século XVII, o culto a Maria Auxiliadora, sobretudo através da confraria conhecida pelo nome de Maria-Hilf, fundada em 1684 pelo Frei Albano de Munique, que em quatro anos contava com 170.000 associados; no século XVIII estendeu-se por toda a Europa. A Frei Jerônimo de Forli (+ 1630) deve-se o costume de coroar solenemente as imagens de Maria. Como apóstolos do Santo Rosário distinguiram-se João Batista de Monza, Honorato de Cannes, José de Carabantes e Paulo de Cádiz. Coube à Ordem capuchinha mérito especial pela instituição da festa do Nome de Maria, decretada por Inocêncio XII, em 1682, em agradecimento pelo triunfo obtido contra os turcos” (IRIARTE, Lázaro. História Franciscana, 321).
Em terras brasileiras, os capuchinhos trouxeram consigo, através das Santas Missões e da presença fraterna em vários lugares, além das devoções do Ofício da Imaculada Conceição e do Sacratíssimo Rosário, grande veneração pela Virgem Santíssima, através de especiais títulos devocionais, a depender do local em que estivessem, tendo em vista que em vários lugares a Virgem Maria é Padroeira provincial dos Capuchinhos, como é o caso de nossa Província do Nordeste, que tem como excelsa padroeira a Virgem Maria, com o título de Nossa Senhora da Penha.
Em todas essas devoções, os Frades Menores Capuchinhos veneram e louvam a única e mesma Mãe de Deus, expressando num especial título ou exercício de piedade, a sua incondicional confiança na Mãe de toda bondade e ternura, pondo-se sob seu manto maternal e recorrendo com fé em todas as circunstâncias da vida, recordando-se da conhecida prece que é recitada por tantos lábios devotos e pulsada em tantos corações fervorosos: “Lembrai-vos, ó Piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que a Vós têm recorrido, implorado vossa assistência e invocado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado” (São Bernardo de Claraval).
Assim sendo, com fé e confiança, acerquemonos todos sob o patrocínio e a defesa da Imaculada Mãe de Deus – auxílio dos cristãos, refúgio dos pecadores, saúde dos enfermos e consoladora dos aflitos – a qual nos acolhe e nos envolve com seu tutelar manto de candura e proteção, apontando-nos sempre para seu Benditíssimo Filho Jesus Cristo, e pedindo-nos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).