Um frade entre os trabalhadores: A vida de fé, trabalho e ação de Frei Gabriel de Frazzanò
Estamos contando a história do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò, missionário Capuchinho, que acolheu o chamado de Deus e veio para Minas Gerais em 1936. Lembramos nesse artigo o tempo em que ele viveu em Uberaba. Lembramos, também, como nos serviços mais humildes ele demonstrava sua total busca de fazer a vontade de Deus e de viver o Evangelho.
Frei Gabriel também se empenhou para fundar, na Paróquia Santa Terezinha, a Irmandade do Santíssimo Sacramento. O “Irmão de todos” ajudava o vigário na arregimentação de membros. Em maio de 1956, aconteceu a primeira adoração pública e a adoração solene foi feita no dia 25 de maio do mesmo ano, na Igreja da Adoração Perpétua, no bairro das Mercês. No dia 26, pelas 7h30min, os irmãos receberam as opas abençoadas por Dom Alexandre durante a missa paroquial. Frei Odorico era o vigário e Frei Felipe, coadjutor. No início eram 58 irmãos na Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Santa Teresinha dos Capuchinhos em Uberaba.
Essa associação religiosa perdurou por muitos anos graças ao empenho e estímulo de Frei Gabriel, que estava sempre entre os irmãos. Nas adorações ele estava sempre presente. Chegava antes e se preparava, dando seu exemplo de piedade e recolhimento. Era o último a deixar o recinto sagrado. Puxava as orações e entoava os cânticos. Muitas vezes fazia isso com enorme sacrifício, devido aos seus afazeres na Paróquia e ainda às dores nas pernas.
Com todo trabalho de construção e organização de festas e movimentos, Frei Gabriel não se esquecia da sua cozinha. Era o cozinheiro do Convento, hábito adquirido desde o noviciado feito na Itália. Uma hora antes, ou menos, do horário oficial da refeição, ele deixava tudo e dirigia-se humildemente às tarefas da cozinha. Fazia pratos simples, especialmente ao sabor italiano, mas com mão certa e rápida. Duma feita, ele na casa de Antônio Garcia Grande, fez vinho. Havia ali muita uva saborosa e já madura. O vinho saiu de ótima qualidade. E foi depois levado ao Frei Felipe e Frei Odorico para experimentá-lo.
Nas tarefas rotineiras domésticas Frei Gabriel não se perturbava, e sempre “quebrava o galho” a contento, consoante seu espírito de servir e de ajudar. Nem sempre sabia fazer o melhor, pois não era um especialista em cozinha. Não se acanhava, todavia, em apresentar sua comida até para os visitantes, como padres, médicos, senhoras e outras pessoas do seu círculo de relacionamento e amizade. Segundo o costume italiano, Frei Gabriel fazia a massa de tomate para o consumo do Convento e ainda para presentear os amigos. Cozinhava o tomate. Depois passava-o na peneira, separando semente, casca e, restando a massa, levava ao fogo até ao ponto.
Na Igreja de São Judas, quando alguma moça se ajoelhava para comungar e tinha mangas curtas ou com alcinha, Frei Gabriel sorrateiramente trazia uma pequena peça que era colocada nos ombros da pessoa. Tratava-se de capinha de papel crepom verde. Com isso, ele estava exigindo maior decoro durante os atos litúrgicos. Também, ainda na pequena Igreja da Santa Teresinha, a que foi demolida mais tarde, muitas vezes Frei Gabriel colocava, nos ombros dos convidados aos casamentos, outras peças de roupas. Procurava, destarte, inspirar nas pessoas maior respeito e devoção.
Uma vez Frei Gabriel ganhara uma saca de arroz numa determinada máquina de beneficiar arroz no Bairro São Benedito, no extremo oposto do Bairro Fabrício. Como não quisesse incomodar ninguém, ele mesmo foi trazendo o produto, andando a pé. Atravessava toda a cidade, passando pelo centro e com dificuldades carregando pacotes de arroz. Isso ocorreu até que um amigo descobriu tudo e logo se prontificou em transportar no seu carro o restante do arroz. Esse amigo de Frei Gabriel – que me narrou o caso – ficou admirado e edificado ao ver o espírito de sacrifício do frade.
Na construção da Igreja de São Judas Tadeu, em Uberaba, Frei Gabriel dizia ao servente Josias João dos Santos que aproveitasse o máximo, pois o material estava caro. E o frade mesmo ajuntava sobras de tijolos, de madeira etc. E aproveitava tudo quanto fosse ainda útil, embora já usado.
Dona Cândida, esposa do Josias, dizia:
- “Não se preocupe, Frei, pois meu marido vai ajudá-lo.”
- “Não, minha filha. É preciso trabalhar, trabalhar...” – respondia Frei Gabriel preocupado e esperando que o andamento do trabalho rendesse mais.
O povo gostava muito das barraquinhas durante as festas religiosas. Nessas ocasiões, Frei Gabriel ficava até altas horas da noite. Não saía dali até que acabasse todo o movimento que era sempre em benefício da Igreja ou dos pobres. Isto ocorreu nas duas Igrejas da Paróquia. A figura do frade ali era certa! Era visto organizando o serviço de alto-falante, fiscalizando, incentivando as crianças junto das “pescarias” ou outros brinquedos etc. Carregava os engradados e caixas de bebidas e outros objetos pesados.
Quando foi por ocasião das missões religiosas na Paróquia, Frei Gabriel, por diversas vezes, passava a noite toda dormindo na sacristia da Igreja de São Judas Tadeu. Um local pequeno e desajeitado. O movimento da Igreja terminava muito tarde. E ele, para não perder tempo e energia entre ir e vir, pois o Convento ficava na praça Santa Teresinha, então já ficava por lá mesmo. No outro dia, pela manhã, ele abria a porta do templo, ligava o alto-falante, arrumava as coisas no lugar e esperava o povo e o padre para a celebração da Santa Missa. Durante a noite, o irmão ajuntava dois bancos e, ali mesmo, sem cobertas nem travesseiro, dormia despreocupado. Para ele, qualquer paixão era divertimento e qualquer penitência, alegria.
Na fase de acabamento da construção da Igreja de São Judas, Frei Gabriel ajudava o paroquiano dedicado, chamado José Alves de Souza, na instalação elétrica. Trazendo material elétrico, segurando ou subindo escada, arrastando pesados bancos ou móveis, eis que, de qualquer modo, o frade estava ali para ajudar. Não era propriamente um eletricista, mas para a simplicidade do trabalho e tendo ao lado um companheiro entendido, Frei Gabriel arriscava-se. E saia-se bem. Seu gênio irrequieto levava-o a esforçar-se a ter curiosidade e muita iniciativa. E a obra deveria ser ultimada!
Assim frei Gabriel ia construindo a sua identidade de Frade Menor Capuchinho, sempre disponível, sempre atento para fazer o seu trabalho, sempre procurando fazer o bem. Nestes episódios do dia a dia de sua vida, transparece a singeleza do seu jeito de ser, um homem de Deus, um homem determinado. Um homem pobre, austero e trabalhador. Que a vida de frei Gabriel de Frazzanò sirva de inspiração para todos que consagram sua vida a Deus, a serviço dos irmãos.
Aos poucos vamos caminhando pela história do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò. Suas aventuras e trabalhos em Uberaba marcaram as histórias daqueles que o conheceram e persistem até hoje na memória, no coração e nas obras que ele fez. O carinho e a dedicação de Frei Gabriel na construção do Reino de Deus nas terras de Uberaba foram grandes, porém, maior ainda fica o seu ensinamento de amor, devoção, fé e fraternidade. Por hora, ficamos por aqui. Até o próximo artigo!
Paz e bem!
Foto Principal: Frei Gabriel de Frazzanò no tempo das Santas Missões em Uberaba.
_____
Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap
Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap
_____
Obs.: Pedimos às pessoas de Uberaba que se tiverem alguma lembrança, de algum fato, alguma história ou alguma foto do Servo de Deus Frei Gabriel, que entre em contato conosco pelo e-mail: freigabriel@capuchinhosmg.org.br.