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Como pregou aos pássaros; como os animais selvagens lhe obedeciam e se refugiavam junto a ele com segu­rança; e a água que ele transformou em vinho.

37.

1 O bem-aventurado Francisco, impregnado de uma simplicidade de pomba, andava uma vez, como era seu costume, pelo vale de Espoleto, quando aconteceu que, num lugar não longe de uma vila chamada Bevagna, viu que se ajuntava grande quantidade de aves de várias espécies.

2 E como, por especial amor ao Cria­dor, ele tinha um amor admirável por todas as criaturas, deixou os companheiros na estrada, correu alegremente para o local onde as aves estavam reunidas e, conforme o seu costume, saudou-as como se fossem dotadas de razão humana.

3 Vendo que os pássaros não se afastavam por causa disso, aproximou-se deles admirado.

4 Por isso, cheio de alegria, o homem de Deus os aconselhou com solicitude a ouvir a palavra do Senhor,

5 e entre muitas outras coisas, disse-lhes com simplicida­de: “Meus irmãos pássaros, deveis louvar e amar mui­to o vosso Criador,

6 porque vos revestiu de penas e com as asas vos ergue da terra; porque vos dá uma habitação no ar puro, mais nobremente que às outras criaturas;

7 porque sem semear nem colher nem fazer provisões em celeiros (Mt 6,26), sem preocupação da vossa parte ele vos nu­tre e vos provê com abundância de tudo o que necessitais”.

8 Os passarinhos, de bicos abertos, asas e pescoços estendidos, mexendo-se belamente como costumam, olhavam para o santo de Deus que lhes propunha essas coisas e pareciam prestar muita atenção a suas palavras.

9 Passando pelo meio deles (Lc 4,30) e voltando, São Francisco tocava-os com a túnica como queria,

10 e eles não se afastaram dali senão quando ele também se retirou, depois de abençoá-los com o sinal-da-cruz e dar-lhes licença de ir embora.

11 Então, diante dos irmãos, ele começou a acusar-se de gran­de negligência, porque não tinha pregado antes às aves.

12 Por isso, desde esse tempo, o homem de Deus, em cuja boca sem­pre estava o louvor, o louvor do Salvador, é claro, ad­moestava não só os homens a louvarem o Senhor como ele o lou­vava,

13 mas também convidava a louvar solicitamente o Criador de todos as aves, os animais e todas as criaturas, chamando-as de irmãos e irmãs.

38.

1 Ele, que se submetera totalmente à vonta­de do Criador imperava não sem merecimento mereceu mandar sobre as criaturas inferiores a ele, cuja obediência ele mesmo pôde atestar freqüentes vezes, invocando o nome do Altíssimo (At 22,16).

2 Para contar alguns entre tantos casos, vou contar só o que aconteceu na vila de Alviano. Uma vez, quando ele se preparava para anun­ciar a palavra de Deus ao povo reunido, sua voz não podia ser ouvida por causa do barulho e da multidão de andorinhas que ali tinham ninho.

3 Então, dirigiu-se às gárrulas ando­rinhas, dizendo: “Minhas irmãs andorinhas, já é tempo (Tb 12,20) de eu falar também, porque vocês falaram bastante até agora; então, de agora em diante, até que termine a palavra do Senhor (2Cr 36,21), parem completamente de falar!”

4 E elas, como dotadas de razão, logo se calaram e não se afas­taram do local antes de terminada a pregação.

5 Vendo o mila­gre, todos os presentes glorificavam a Deus e desejavam ao me­nos tocar o hábito do santo homem.

39.

1 Muitas vezes, até os animais selvagens refugiavam-se junto do bem-aventurado Francisco, como um porto muito seguro e, guiados pela razão, soubessem do seu amor por eles.

2 Uma vez, quando permanecia na vila de Greccio, viu que um frade carregava uma lebre viva capturada num laço.

3 Movido por grande compaixão, aquele homem tão manso homem lhe disse: “Irmã lebrezinha, vem cá comigo! Por que te deixaste enganar assim?”

4 Livrando-se do irmão, a lebrezinha correu logo até o homem de Deus e se abrigou tranqüilamente no seu regaço como um animal doméstico.

5 E sempre que o homem de Deus a pu­nha no chão para que fosse embora, ela voltava para ele, como se não quisesse outra liberdade, até que ele mandou que os frades a levassem ao bosque vizinho.

6 Com um coelhinho, que é um animal bastante indomável, também fez algo semelhante, quando esteve na ilha do lago de Perusa.

40.

1 Semelhantemente, uma vez, estando numa barca no lago de Rieti, deram-lhe um peixe vivo, não pequeno, dos que o povo chama de tinca.

2 O santo homem recebeu-o com ale­gria e benevolência, não para comê-lo, mas para restituir-lhe a liberdade. Chamou o peixe de irmão, orou, abençoou-o em nome do Senhor (Sl 112,2) e o repôs na água.

3 Mas o peixe brin­cava na água e não se afastou da barca, enquanto o santo continuava a oração e o louvor, até que, terminada a oração, o bem-aven­turado Francisco lhe deu licença de ir embora.

4 Assim, pois, o glorioso confessor de Cristo não só teve poder sobre os seres sensíveis, isto é, sobre os animais e as aves, e seria demasiadamente longo narrar cada caso, mas, em sua honra, o Senhor mudou a natureza tam­bém dos seres insensíveis.

5 Também vamos contar brevemente só um fato entre outros semelhantes.

6 Uma vez em que o santo estava gravemen­te doente no eremitério de Santo Urbano, a água mudou-se miraculosamente em vinho para ele.

7 E aconteceu que, quando ele provou o vinho, ficou tão facilmente curado, que ninguém duvidou que se tratava de um milagre.