Como São Francisco e seus companheiros, junto com Santa Clara, foram arrebatados no lugar da Porciúncula.
1 Quando Francisco, o servo de Deus Altíssimo, estava em Assis, e ainda era viva Clara, a bem-aventurada esposa de Cristo, ele a visitava freqüentemente com suas sagradas exortações, e ele rogou muitas vezes ao bem-aventurado Francisco que lhe desse a consolação de uma vez comerem juntos. 2 Mas o bem-aventurado Francisco sempre se recusava a fazer isso. Por isso aconteceu que os companheiros do santo pai, ponderando o desejo de Santa Clara, disseram ao bem-aventurado Francisco:
3 “Pai, nós achamos que não está de acordo com a caridade divina esse rigor de não atenderes a bem-aventurada Clara, virgem tão sagrada e amada por Deus, 4 que abandonou as pompas do século principalmente pela tua pregação. Por causa disso, ainda não pôde uma vez sequer tomar a refeição contigo. Mesmo que pedisse uma graça maior com tanta insistência, deverias faze-lo pela tua plantinha!”.
5 O bem-aventurado Francisco disse: “Achais que eu devo atende-la quanto a esse desejo?”. Os companheiros disseram: “Sim, pai, pois é digna (cfr. Lc 7,4) de que dês essa consolação”.
6 São Francisco respondeu: “Se vos agrada, então eu também acho; mas, para que fique plenamente consolada, quero que isso aconteça em Santa Maria dos Anjos. 7 Pois ela está fechada há muito tempo em São Damião, e assim vai ficar um pouquinho mais alegre revendo o lugar de Santa Maria, onde foi tonsurada e feita esposa de nosso Senhor Jesus Cristo: e lá vamos comer juntos em nome do Senhor”.
8 Por isso, foi marcado o dia em que ela sairia com uma companheira; e, com o acompanhamento dos companheiros do santo pai, veio a bendita Clara a Santa Maria dos Anjos. 9 Depois de ter reverente e humildemente adorada a beatíssima Mãe de Deus, e percorrido por devoção todos os cantos do lugar, chegou a hora de comer: o humilde e divino Francisco fez preparar a mesa no chão batido, como costumava muitas vezes. 10 E sentou-se, ele e a beatíssima Clara, um dos companheiros de São Francisco com uma companheira de Santa Clara; e todos os outros companheiros tiveram seu lugar naquela mesa humilde.
11 Como primeiro prato, São Francisco começou a falar de Deus tão suave e santamente, tão altíssima e divinamente, que ele mesmo, São Francisco, Santa Clara, sua companheira e todos os outros que estavam naquela mesa pobrezinha foram arrebatados por tanta graça de Deus que veio sobre eles.
12 Quando eles estavam assim: sentados, arrebatados, com os olhos e as mãos levantados para o céu, os homens de Assis, de Betona e de toda parte naquela região pareceu que Santa Maria dos Anjos, todo o lugar, o mato que ainda havia junto do lugar, estava tudo queimando, e um grande fogo tomava conta de tudo isso, isto é, da igreja, do lugar e do bosque.
13 Por isso os assisienses, para socorrer o lugar, correram com a maior pressa, crendo firmemente que tudo estava sendo consumido pelo fogo. Mas, quando chegaram ao local, viram que tudo estava absolutamente ileso e intacto. 14 Quando entraram na casa, viram o bem-aventurado Francisco com a bem-aventurada Clara e todos os companheiros de que falamos, arrebatados no Senhor, todos sentados ao redor daquela mesa tão humilde, revestidos da virtude vinda do alto (cfr. Lc 24,49). 15 Perceberam, então, com toda a certeza, que se tratava de um fogo divino que, pela devoção de tão grandes santos e santas incendiava o lugar com copiosas consolações do amor divino. Por isso foram embora, muito edificados e consolados.
16 O bem-aventurado Francisco, a bem-aventurada Clara e os outros, refeitos por tão copiosa divina consolação, pouco ou nada se importaram com outra comida. 17 Então, depois de tomar tão abençoado alimento, a bem-aventurada Clara voltou para São Damião. Quando a viram, as Irmãs ficaram muito alegres, porque tinham temido que São Francisco a tivesse enviado para dirigir outro mosteiro, 18 como mandara Santa Inês, sua irmã, como abadessa de Florença: pois naquele tempo São Francisco mandava Irmãs para governar outros mosteiros. E uma vez tinha dito a Santa Clara: “Fica preparada porque, se precisar, eu te mandarei para qualquer lugar”.
19 E ela, como filha da obediência, dizia: “Pai, estou preparada para obedecer, qualquer que seja o lugar para onde me mandares”. Por isso as Irmãs se alegraram quando a tiveram de volta. E, a partir daí, a bem-aventurada Clara ficou muito consolada.
Para o louvor de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.