Sobre a admirável e humilde obediência de Frei Rufino.
1 Por causa do empenho na contemplação assídua, Frei Rufino vivia tão absorto em Deus que, ficando como que insensível, falava muito raramente. Também não era dotado da graça de comunicar a palavra, porque não tinha ousadia nem facilidade de falar. 2 Um dia, São Francisco mandou que Frei Rufino fosse a Assis e pregasse ao povo o que Deus lhe inspirasse.
3 Frei Rufino respondeu: “Reverendo pai, poupa-me e não me mandes fazer isso porque, como bem sabes, eu não tenho a graça da palavra, e também sou um simplório, néscio idiota”. 4 Mas São Francisco disse: “Porque não me obedeceste imediatamente, eu te mando por obediência que vás a Assis despido, ficando só com as bragas. Entrando numa igreja, vais pregar ao povo assim, nu”.
5 Como verdadeiro obediente, ele foi na mesma hora para Assis, nu. Fazendo uma reverência em uma igreja, levantou-se para pregar. Os meninos e os homens começaram a rir e a dizer: “Esses aí fazem tanta penitência que ficam doidos!”.
6 Nesse meio tempo, São Francisco refletiu na obediência pronta de Frei Rufino e no mandato tão duro, começou a repreender a si mesmo com muita dureza, dizendo: “Como te deu na cabeça, filho de Pedro de Bernardone, homenzinho vil, mandar a Frei Rufino, que é dos mais nobres cidadãos de Assis, que fosse nu pregar ao povo? 7 Por Deus! Vou fazer que experimentes em ti o que mandas em outro!”. Dizendo isso, no fervor do Espírito Santo, tirou a túnica e foi a Assis despido, levando consigo Frei Leão, para levar com muita discrição a sua túnica e a de Frei Rufino.
8 Quando os assisienses viram-no despido, riam como de um doido, julgando que tanto ele como Frei Rufino tinham enlouquecido por causa da penitência. Mas o bem-aventurado Francisco foi ao encontro de Frei Rufino, que já começara a pregar. 9 E dizia devotamente: “Caríssimos, fugi do mundo, deixai o pecado, devolvei o que é dos outros, se quiserdes evitar o inferno. Observai os mandamentos amando a Deus e ao próximo, que quiserdes ir para o céu. E fazei penitência, porque o reino dos céus está se aproximando (cfr. Mt 3,2)”.
10 Então São Francisco subiu despido ao púlpito e pregou coisas tão estupendas sobre o desprezo do mundo, sobre a santa penitência, sobre a pobreza voluntária, sobre o desejo do reino celeste, sobre a nudez, os opróbrios e a santíssima paixão de Jesus Cristo crucificado, 11 que todos, homens e mulheres, que ali se haviam reunido em grande quantidade, começaram a chorar bem alto. Com incrível devoção e compunção clamavam pela misericórdia do Altíssimo nas alturas, de modo que quase todos se converteram em um novo espanto da mente. 12 Em Assis, houve tanto pranto no povo que assistia, que nunca se ouvira naquela cidade semelhante pranto pela paixão de nosso Senhor Jesus Cristo.
13 E assim, edificado o povo, consoladas as ovelhas e abençoado em altas vozes o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, São Francisco fez com que Frei Rufino se vestisse, e se vestiu junto dele. 14 Voltando a vestir suas túnicas, glorificando e louvando a Deus porque tinham vencido a si mesmos, tinham edificado as ovelhas do Senhor e tinham mostrado como deve o mundo ser desprezado, voltaram para o lugar da Porciúncula. 15 E os que conseguiam tocar a barra de suas roupas (cfr. Lc 8,44) julgavam-se felizes.
Para o louvor de n. Senhor Jesus Cristo. Amém.