Como o sultão da Babilônia foi convertido à fé e batizado por frades que o bem-aventurado Francisco enviou.
1 Nosso santíssimo pai Francisco, levado pelo zelo da fé e pelo fervor do martírio, viajou para o ultramar com doze de seus companheiros, pensando em ir diretamente ao sultão. 2 Então, chegando a algumas regiões dos pagãos, onde os caminhos eram guardados por homens tão cruéis que nenhum cristão que passasse por ali conseguia escapar à morte, eles escaparam de morrer por disposição de Deus. 3 Mas foram presos, atormentados de muitas maneiras e, fortemente amarrados, levados ao sultão. Diante dele, São Francisco, levado pelo Espírito santo, pregou tão divinamente sobre a fé católica que até se ofereceu para passar pela prova do fogo.
4 Vendo isso, o sultão ficou com muita devoção por ele, tanto pela constância na fé e pelo desprezo do mundo — pois não quis receber nada dele, apesar de ser paupérrimo — como também pelo fervor do martírio.
5 A partir daí, ouvia-o com a maior boa vontade e pediu que fosse vê-lo com freqüência. 6 Além disso, concedeu a São Francisco e a seus companheiros que pudessem pregar livremente onde quisessem. 7 E lhes deu um distintivo para que não fossem molestados por ninguém que o visse.
8 Por isso, quando São Francisco recebeu essa liberal licença, mandou seus companheiros escolhidos dois a dois pelas diversas regiões dos pagãos. 9 Entre elas, ele escolheu uma região com seu companheiro. Quando chegaram a uma hospedaria em que precisavam ficar para descansar, lá encontrou uma mulher bonita de rosto mas muito torpe de mente, que provocou São Francisco para um ato muito mau.
10 Ele lhe disse: “Aceito o que estás dizendo”. Ela respondeu: “Então vamos preparar a cama”. 11 Mas São Francisco disse: “Vem comigo que eu vou te mostrar uma cama mais bonita”. E levou-a para um fogo bem grande, que havia então na casa. 12 No fervor do espírito, despiu-se e se acomodou nu naquele fogo como se estivesse na cama. E chamou-a dizendo: “Despe-te e vem depressa gozar comigo este leito esplêndido, florido e admirável, porque precisas estar aqui se queres me obedecer!”. 13 O fogo não fez nenhum mal a São Francisco, que ficou deitado naquela lareira com o rosto alegre, como se estivesse sobre flores.
14 A mulher, quando viu e se espantou diante de coisas tão admiráveis, saiu não só do esterco do pecado mas também das trevas da infidelidade, convertendo-se a nosso Senhor Jesus Cristo e vindo a ser de tão admirável santidade e graça que, com a ajuda dos méritos do santo pai, conquistou muitas almas para o Senhor naquelas regiões.
15 Mas São Francisco, quando viu que não conseguia frutos naquela região, resolveu, por revelação de Deus, reunir os companheiros e voltar para as terras dos fiéis. Voltando ao sultão, falou de sua intenção de retornar. 16 O sultão disse: “Frei Francisco, eu me converteria de boa vontade à fé de Cristo, mas temo faze-lo agora porque, se estes aqui percebessem, matariam na mesma hora a mim e a ti com os teus companheiros. 17 Como ainda podes fazer muito bem e eu ainda tenho que cuidar de alguns negócios importantes para a salvação da minha alma, não gostaria de provocar antes do tempo, por querer, a minha e a tua morte. Diz-me de que modo vou poder me salvar, e eu estou pronto para obedecer em tudo”.
18 Disse-lhe Francisco: “Senhor, eu, agora, vou embora. Mas, depois que tiver voltado para o meu país e passado para o para o céu, a chamado do Senhor, depois de minha morte, por disposição divina, vou te mandar dois dos meus frades, pelos quais receberás o batismo e te salvarás, como me revelou nosso Senhor Jesus Cristo. 19 Enquanto isso, desliga-te de todos os negócios, para que, quando vier, a graça de Deus te encontre preparado na fé e na devoção. O sultão concordou com alegria e obedeceu fielmente. São Francisco, despedindo-se dele, voltou para a região dos fiéis com aquele venerando grupo de companheiros santos.
20 Depois de alguns anos, o referido sultão adoeceu. Esperando que fosse cumprida a promessa do santo, que já tinha ido para a vida bem-aventurada, colocou sentinelas nas portas de saída da cidade para que, se aparecessem dois frades com o hábito de São Francisco, levassem-nos rapidamente para ele. 21 Nesse tempo, São Francisco apareceu para dois de seus frades, mandou que fossem sem demora ao sultão e cuidassem solicitamente de sua salvação, como lhe prometera. 22 Eles cumpriram devotamente o encargo. Atravessaram o mar e foram levados ao sultão pelas sentinelas.
23 Quando os viu, o sultão teve uma enorme alegria (cfr. Mt 2,10), dizendo: Agora eu sei de verdade que o Senhor enviou (cfr. At 12,11) seus servos; porque, como São Francisco prometeu, por revelação do Senhor, assim me guardou, enviando solicitamente os frades para minha salvação”. 24 Tendo recebido dos frades as doutrinas da fé e o santo batismo, o sultão foi regenerado naquela mesma doença e migrou no Senhor para as alegrias sempiternas. Sua alma foi salva pelos méritos do santo pai.
Para o louvor e glória do Senhor.