Como São Francisco, pregando em Bolonha, converteu dois frades da Marca, Frei Peregrino e Frei Ricério.
1 Certa ocasião, São Francisco ia pelo mundo e chegou à cidade de Bolonha. Quando o povo ficou sabendo da sua chegada, houve um ajuntamento de todos em torno a São Francisco, de modo que mal podia andar. 2 Todos queriam vê-lo, como a flor do mundo e um anjo do Senhor, de forma que teve a maior dificuldade para chegar à praça da cidade.
3 Quando lá se congregou a maior multidão de homens, mulheres e muitos escolares, São Francisco levantou-se no meio deles e pregou coisas tão admiráveis e estupendas, ditadas pelo Espírito Santo, que não parecia um homem mas um anjo. 4 Aquelas suas palavras pareciam celestes como as setas agudas do poderoso (cfr. Sl 119,4) que procediam do arco da sabedoria divina e penetravam tão fortemente nos corações de todos, que converteu a enorme multidão de homens e mulheres do estado de pecado para os lamentos da penitência.
5 Entre eles havia estudantes dos mais nobres da Marca de Ancona, isto é, Peregrino, que era da casa de Falerone, e Ricério de Múcia. 6 Estes, tocados entre outros internamente pelas santas palavras do santo pai, foram falar com o bem-aventurado Francisco, dizendo que queriam de todo jeito abandonar o mundo e tomar o hábito de seus frades. 7 São Francisco, considerando o fervor deles, soube pelo Espírito Santo que tinham sido mandados por Deus. Além disso, compreendeu a que tipo de comportamento cada um se submeteria. 8 Por isso recebeu-os com alegria e disse: “Tu, Peregrino, fica no caminho da humildade; e tu, Ricério, serve os frades”. E assim foi feito.
9 Frei Peregrino nunca quis ser clérigo. Permaneceu leigo apesar de ser um bom literato, erudito em direito. 10 Por causa dessa humildade, chegou à maior perfeição das virtudes, especialmente à graça da compunção e do amor de nosso Senhor Jesus Cristo. 11 Abrasado pelo amor de Cristo e inflamado pelo desejo do martírio, foi a Jerusalém visitar os lugares sagrados do Salvador, levando consigo o volume do Evangelho.
12 Conhecendo os lugares sagrados em que o Deus e homem caminhara, tocando-os com os pés e vendo-os com os olhos, inclinava-se lá para orar ao Senhor e abraçava com os braços da fé aqueles lugares santíssimos, beijava-os com lábios de amor e regava tudo com lágrimas devotíssimas, de modo que provocava todos os que o viam para a maior devoção. 13 mas, por ordem da dispensação divina, voltou para a Itália e, como um verdadeiro peregrino do mundo e cidadão do reino celeste, muito raramente visitava seus consanguíneos.
14 Animava-os a desprezar o mundo e, falando sobriamente, incitava-os ao amor divino. Depois se afastava deles expedita e rapidamente, dizendo que Cristo Jesus, que enobrece a alma, não se encontra entre os parentes e conhecidos (cfr. Lc 2,44).
15 Sobre esse Frei Peregrino, Frei Bernardo, primogênito de nosso santíssimo pai Francisco, disse uma palavra muito admirável, isto é, que Frei Peregrino era um dos frades mais perfeitos deste mundo. 16 Pois foi um peregrino de verdade, porque o amor de Cristo, que ardia sempre no seu coração, não permitia que ele repousasse em alguma coisa criada, nem que pusesse seu afeto em algo temporal, mas fazia-o tender sempre para a pátria e aspirar pela pátria, progredindo de virtude em virtude até transformar o amante em amado.
17 No fim, cheio de virtudes para Cristo, a quem amou de todo o coração, descansou em paz com muitos milagres antes e depois da morte.
Para o louvor de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.