Maravilhas sobre alguns irmãos da província das Marcas; e como a Bem-aventurada Virgem apareceu a Frei Conrado no bosque de Forano.
A - 1 A província da Marca de Ancona foi como um céu estrelado com notáveis estrelas e ornado com santos frades menores que, acima e abaixo, reluziam diante de Deus e do próximo com radiantes virtudes; sua memória está verdadeiramente na bênção (cf. Sir 45,1) divina.
2 Entre eles, houve alguns como astros maiores, mais luminosos do que os demais, a saber, Frei Lúcido, o mais antigo, que brilhava verdadeiramente em santidade e ardia (cf. Jo 5,35) na caridade divina, cuja língua gloriosa, instruída pelo Espírito Santo, produzia admiráveis frutos.
3 Também Frei Bentivoglia de São Severino, que, quando rezava no bosque, foi visto elevado no ar a grande distância do chão, por Frei Masseu, da mesma terra, o qual por causa daquele milagre deixou a paróquia e se fez frade menor; e foi de vida tão santa que fez muitos milagres; e repousa em Murro. 4 Este Frei Bentivoglia, enquanto estava sozinho em Trave Bonanti e cuidava de um leproso, obrigado a partir pela obediência e não querendo abandonar o leproso, depois de tê-lo colocado nos ombros, com ele assim carregado, foi desse lugar de Trave até ao Monte de San Vicino, 5 onde havia outro lugar, numa distância de quinze milhas, do início da aurora até ao nascer do sol; se ele fosse uma águia, talvez mal pudesse voar nesse caminho em tão pouco tempo e todo esse peso. Todos que ouviram falar deste milagre divino ficaram admiravelmente estupefatos.
6 Também Frei Pedro de Monticello, que, por Frei Servádio de Urbino, então seu guardião no antigo lugar de Ancona, foi visto elevado até aos pés do crucifixo, colocado no alto uns cinco ou seis côvados acima do pavimento da igreja.
B - 7 Este mesmo, quando jejuou com muita devoção a quaresma de São Miguel Arcanjo e no último dia de jejum se dirigiu à igreja para rezar, foi ouvido por um frade menino que estava cuidadosamente escondido sob o altar: estava falando com o santíssimo Miguel Arcanjo e o arcanjo com ele. 8 E as palavras que diziam eram estas. Dizia o Arcanjo: “Frei Pedro, tu trabalhaste fielmente por mim e te afligiste de múltiplas formas; eis que vim para te consolar, para que peças qualquer graça que quiseres; e eu a impetrarei do Senhor para ti”.
9 Frei Pedro respondia: “Santíssimo príncipe da milícia celeste, fidelíssimo zelador da honra de Deus e protetor piíssimo das almas, peço-te esta graça: que impetres para mim a remissão de todos os pecados”.
10 Respondeu o santíssimo Miguel: “Pede outra graça, porque essa eu vou adquirir para ti com facilidade”. Mas Frei Pedro não pedia outra coisa. O Arcanjo concluiu: “E eu, por causa da fé e devoção que tens em mim, vou conseguir para ti a graça que pedes e muitas outras”. 11 Quando acabou o colóquio, que durou por muito tempo de noite, deixou-o intimamente consolado.
C - 12 Além disso, no tempo desse Frei Pedro, verdadeiramente santo, houve o mencionado Frei Conrado de Offida. Como eles viviam juntos em família no lugar de Forano, da custódia de Ancona, Frei Conrado foi ao bosque para meditar as coisas de Deus, e Frei Pedro foi às escondidas atrás dele para ver o que aconteceria com ele. 13 E Frei Conrado começou a rogar à Bem-aventurada Virgem, com devotíssimas lágrimas, que impetrasse para ele de seu bendito Filho esta graça: que pudesse sentir um pouquinho daquela doçura que São Simeão sentiu no dia da Purificação, quando tomou nos braços (cf. Lc 2,28) o Cristo Salvador bendito.
14 Ele foi atendido por aquela Senhora cheia de misericórdia: eis a Rainha da glória com seu Filho bendito e com tanta claridade de luz que não só afugentava as trevas, mas também superava todas as luzes. E, aproximando-se de Frei Conrado, colocou-lhe nos braços aquele menino, o mais belo dos filhos dos homens (cf. Sl 44,3).
15 Frei Conrado, tomou-o mui devotamente, beijou-o nos lábios e apertando-o no peito, derretia-se todo em abraços e ósculos de caridade. E Frei Pedro via tudo isto em clara luz e, além disso, sentia uma admirável consolação. 16 Ele ficou escondido no bosque. Quando a Bem-aventurada Virgem Maria foi embora com o Filho, Frei Pedro voltou depressa para casa. Quando Frei Conrado vinha voltando todo festivo e alegre, foi chamado por Frei Pedro: “Homem do céu, tiveste hoje muita consolação!” 17 Disse Frei Conrado: “Que estás dizendo, Frei Pedro? Que sabes tu que eu tive?” Respondeu Frei Pedro: “Bem sei, homem do céu, bem sei como a Virgem beatíssima e seu bendito Filho te visitaram”.
18 Ouvindo isto, Frei Conrado, que, como um humilde de verdade, preferia o segredo, pediu que não o dissesse a ninguém. Era tão grande o amor entre esses dois que pareciam quase um só coração e uma só alma (cf. At 4,32).
D - 19 Esse mesmo Frei Conrado, orando no lugar de Sirolo, libertou uma possessa do demônio; e imediatamente fugiu do lugar para que a mãe da menina libertada não o encontrasse, nem houvesse afluência do povo, 20 pois Frei Conrado rezara durante toda aquela noite,e aparecera à mãe da predita menina e, em aparecendo, libertara a filha.
Para o louvor e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.