Sobre a admirável revelação feita nos corações do santo Frei Egídio e de São Luís, rei de França.
1 Como São Luís, rei da França, tinha resolvido peregrinar durante sete anos pelos santuários e ouviu falar da verdadeira fama da admirável santidade de Frei Egídio, resolveu que haveria de visitá-lo de qualquer jeito. 2 Por isso, em sua peregrinação, desviou-se para Perusa, onde ouvira dizer que Frei Egídio morava. Quando chegou à porta dos frades, como um peregrino pobrezinho e desconhecido, com poucos companheiros, pediu insistentemente por Frei Egídio, sem revelar nada ao porteiro sobre a sua condição.
3 O porteiro foi a Frei Egídio, dizendo que um peregrino chamava-o na porta. Frei Egidio viu imediatamente em espírito que aquele era o rei da França. 4 Saiu da cela como um ébrio, correu bem depressa para a porta. Os dois caíram em admiráveis abraços e devotos beijos, ajoelhados, como se já se conhecessem por uma amizade bem antiga. 5 Tendo demonstrado esses sinais de um caridoso amor, sem que nenhum proferisse uma palavra sequer ao outro, afastaram-se mantendo o maior silêncio.
6 Quando o rei foi embora, um de seus companheiros, interrogado pelos frades sobre quem era aquele que caíra em tão caridosos abraços com Frei Egídio, respondeu que era Luís, rei da França, que fazendo uma peregrinação, quis ver Frei Egídio. Dizendo isso, ele e os companheiros do rei foram embora bem velozmente.
7 Os frades, sentidos porque Frei Egídio não tinha dito nenhuma boa palavra ao rei, queixando-se de muitas formas, diziam: “Ó Frei Egídio, por que não quiseste dizer nada a um rei tão importante, que veio da França para te ver e ouvir de ti alguma boa palavra?”.
8 Frei Egídio respondeu: “Queridos irmãos, não vos admireis porque nem ele nem eu quisemos dizer alguma coisa um para o outro. Porque, assim que nos abraçamos, a luz da sabedoria divina revelou a mim o coração dele, e a ele o meu. 9 Colocados nesse espelho, tudo que ele tinha pensado em me dizer e eu queria dizer a ele nós ouvimos com plena consolação, sem nenhum ruídos dos lábios ou da língua, melhor do que se tivéssemos falado com os lábios. 10 E se quiséssemos explicar o que sentíamos interiormente usando o som vocal, a fala talvez tivesse servido mais para a desolação do que para a consolação dos dois, pela deficiência da língua humana, que não consegue explicar os segredos divinos a não ser com o enigma das figuras. Por isso, ficai sabendo que o rei saiu admiravelmente consolado”.
Para o louvor e glória de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito nos séculos. Amém. (cfr. Rm 1,25).