Como o Senhor Jesus Cristo falou com Frei Masseu.
1 Aqueles santos companheiros de nosso pai Francisco, pobres em coisas mas ricos em Deus, não procuravam ser ricos de ouro ou prata, mas tinham a maior solicitude por se enriquecerem de santas virtudes, pelas quais chega-se às verdadeiras e eternas riquezas. 2 Assim aconteceu que, certo dia, Frei Masseu, um dos companheiros escolhidos do santo pai, estava conversando com os outros companheiros sobre Deus, e um deles contou que havia um amigo de Deus que possuía uma a graça de uma grande vida ativa e contemplativa.
3 E tinha, com isso, um abismo profundo de humildade, pela qual achava-se o maior dos pecadores. Essa humildade santificava-o e o confirmava, fazendo crescer continuamente nos referidos dons. E, o que é melhor, não permitia jamais que ele se afastasse de Deus.
4 Quando Frei Masseu ouviu contar essas coisas maravilhosas e percebeu que se tratava do tesouro da vida e da salvação eterna, ficou tão inflamado de amor para ter essa virtude da humildade, que merece com toda dignidade o abraço de Deus, 5 que, levantando o rosto para o céu em grande fervor, obrigou-se por um voto muito firme a nunca se alegrar neste mundo até que sentisse que essa humildade preclaríssima estava presente em sua alma.
6 Feito esse voto e santo propósito, permanecia continuamente fechado na cela, e se imolava sem cessar diante de Deus com gemidos inenarráveis (cfr. Rm 8,26). Pois lhe parecia que seria um homem plenamente digno do inferno, 7 se não chegasse a essa humildade santíssima, pela qual o amigo de Deus, de quem ouvira falar, cheio de virtudes julgava-se inferior a todos, e até absolutamente merecedor do inferno. 8 Ora, como Frei Masseu permaneceu triste desse jeito por muitos dias, imolando-se na fome, na sede e em muitas lágrimas, aconteceu que, um dia, entrou no bosque. Caminhando lá por dentro, soltava gritos queixosos e suspiros lacrimosos, pedindo que Deus lhe desse aquela virtude.
9 E, porque o Senhor cura os contritos de coração (cfr. Lc 4,18) e ouve as vozes dos humildes, ele ouviu uma voz do céu que clamou duas vezes: “Frei Masseu, Frei Masseu!”. Sabendo pelo Espírito Santo que se tratava de Cristo bendito, respondeu: “Meu Senhor, meu Senhor!”. E o senhor lhe disse: “O que estás disposto a dar, o que estás disposto a dar para possuir essa graça?”. 10 Frei Masseu respondeu: “Senhor meu, os olhos de minha cabeça”. E o Senhor disse: “Mas eu quero que tenhas a graça e os olhos!”. Então Frei Masseu ficou com tanta graça da desejada humildade e da luz de Deus, que permanecia em contínuo júbilo.
11 E muitas vezes, quando orava, soltava um murmúrio uniforme, dizendo com voz velada como uma pomba: “u, u. u” e, com o rosto alegre e satisfeito entregava-se à contemplação. Com isso, tornou-se humilíssimo, mas se julgava o menor de todos os homens.
12 Frei Tiago de Fallerone, de santa memória, perguntou-lhe porque não mudava o verso no júbilo. Ele respondeu com a maior alegria: “Porque, quando se encontra todo bem em alguma coisa, não é preciso variar o verso”. Graças a Deus.